Title | : | D'este viver aqui neste papel descripto |
Author | : | |
Rating | : | |
ISBN | : | - |
Language | : | Portuguese |
Format Type | : | Kindle , Hardcover , Paperback , Audiobook & More |
Number of Pages | : | - |
Publication | : | First published January 1, 2005 |
D'este viver aqui neste papel descripto Reviews
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Este era um livro que há muito desejava ler. Finalmente decidi-me a comprá-lo e não me arrependo de o fazer.
António Lobo Antunes é um autor bastante reconhecido (foi este ano nomeado para Prémio Nobel da Literatura!) e era grande a curiosidade em ler alguma obra do autor. Confesso que tentei ler o "Hei-de Amar Uma Pedra" mas não se revelou tarefa fácil pelo que decidi começar pelo princípio, literalmente.
Demorei, no entanto, vários meses a acabar de o ler. Não porque se tenha revelado aborrecido. Antes pelo contrário. São "Cartas da Guerra" mas facilmente se poderiam intitular de "Cartas de Amor" pois é isso que na realidade são. Cartas de um homem apaixonado à sua esposa grávida no desespero criado pela distância e pela solidão.
Estas Cartas da Guerra foram enviadas por um António Lobo Antunes, casado de fresco, à sua mulher durante a Guerra do Ultramar. Durante o exílio forçado, o autor refugia-se na escrita daquele que virá a ser o seu primeiro livro e aí nos deparamos com aquelas que devem ser as dúvidas de qualquer potencial escritor perante a qualidade daquilo que escreve.
Nestas cartas apercebemos-se, também, dos diferentes estados de espírito que o assolam o escritor: ora conformado com a situação em que se encontra, ora levado ao desespero pela saudade e pela crueldade inerente à guerra.
São-nos "descriptas" as realidades de uma África em guerra. As dificuldades passadas pelos combatentes mas também a cultura indígena africana, rica em superstições.
Ao longo deste livro são várias as referências que o autor faz aos livros. Aqueles que já leu, aos que está a ler e àqueles que deseja que lhe enviem. A literatura parece ser, a par da escrita, um refúgio.
Apreciei bastante as imensas referência literárias que Lobo Antunes vai fazendo, ainda que nem sempre concorde com as mesmas. Partilho com ele a admiração pela obra "Cem Anos de Solidão" de Gabriel García Márquez, publicada poucos anos antes.
Depois desta leitura sinto-me tentada a ler outros livros do autor, principalmente "Memórias de Elefante" e "Cus de Judas", os primeiros romances publicados pelo autor e profundamente marcados pelos momentos que nos são "descriptos" ao longo destas cartas.
Excertos
"De todos estes sul americanos o melhor é mesmo Os Cem Anos de Solidão,o mais rico de invenção, o mais barroco e o mais louco."
"Somos de resto tão pouco inteligentes quando amamos..." -
Li o livro, vi o filme. Sendo o livro um importante documento histórico da Guerra de África, torna-se um pouco "elástico" pela troca diária de cartas que, inevitavelmente, vão versando os mesmos temas.
Já o filme é um meticuloso apanhado do que de melhor está escrito, acompanhado por uma direcção de fotografia fenomenal.
É um dos raros casos em que o filme é melhor do que o livro. -
#lerloboantunes.
Estas cartas são demasiado pessoais e de partilha íntima para serem classificadas.
Um outro olhar sobre António Lobo Antunes. Sobre a sua vida, as suas paixões, a leitura e a escrita. -
Durante muito tempo deixei este livro na minha mesa de cabeceira, por puro egoísmo. Estava a dar-me tanto prazer a companhia de cartas de amor que não queria que me deixassem o pé da cama nunca. Qual será o sentimento que leva um homem a escrever uma carta todos os dias à sua esposa, mesmo que nada tenha para lhe contar que não seja que gosta tudo dela?
Aos poucos porém o encanto vai-se desvanecendo, os comentários vão-se-nos tornando familiares, a vida que nos é “descripta” pouco muda, os personagens vão perdendo a novidade. Aos poucos vamos conhecendo a personalidade de ambos, mais dele, que transparece claramente, a sua passividade e o seu ciúme, os seus desejos e a sua insegurança, o medo e a coragem, a roçar o conformismo.
O desterro do mundo, de notícias da família e da amada, viver a kms de distância o nascimento da primeira filha, contar os dias para as férias, para o regresso.
Acima de tudo fica a mística das cartas de guerra, o amor à distância que se quer encurtar, a saudade. -
C o r i n g a
Imaginem foi definitivamente uma experiência e ler cartas de pessoas que não era suposto serem publicadas satisfaz bué a minha cusquice. Mas a escrita deste homem dá-me imensas doenças mentais (bué engraçado porque ele é psiquiatra).
E pronto guerra é mau já sabíamos essa, mas até tive a sensação de que ele falava pouco disso na maior parte das cartas (provavelmente para a mulher não coringar). As opiniões dele sobre quase tudo irritam-me porque ele era (é?) mega pretencioso mas sei lá se calhar se eu fosse um homem de 28 anos ia ser como ele. Sinto que a experiência dele apesar de ser médico e ter visto cenas mesmo horríveis, estar ali a sofrer e até desenvolver uma certa consciência política não representa muito bem o average português porque ele era super priveligiado e rico (mesmo que ele tente fingir que não). Também tinha umas views um bocado estranhas sobre as pessoas angolanas mas pareceu-me menos racista do que eu estava à espera tbh.
Não achei muito romântico porque já estava contaminada do outro livro dele.
Não leiam isto quando estão a ter insónias 😀 -
P. 316- "Nunca pensei viver tão chatamente, tão "platement"... As coisas reduzem-se a meia dúzia de necessidades elementares de cão em canil (comer, dormir, uivar um pouco a minha angústia) e a praticamente mais nada. A única diferença é que o cachorro que sou se agarra à minúscula esperança de um dia sair daqui. É difícil imaginar isto sem aqui ter vivido, a solidão, a resignada angústia, sei lá."
Nestas cartas, com uma certa tonalidade diarística (Lobo Antunes escrevia à mulher quase todos os dias), testemunhamos, não só a angústia do desterro de um jovem médico num cenário de guerra em África, a sua solidão, o desespero, a contagem dos dias para que este período de destacamento termine, mas também a sua história de amor, com descrições lindíssimas desse sentimento que, também, povoa o coração e que ele (o escritor) tão ansiosamente alimenta. -
Door de aard van de teksten – liefdesbrieven – voelt de lezer zich haast een voyeur, ook al moeten de brieven bewust beschikbaar zijn gesteld om uit te geven. Er komen sprankjes informatie mee over de wederwaardigheden van Lobo Antunes tijdens de oorlog die Portugal in Angola voerde tegen de bevrijdingsbeweging, veel is het niet, mede wegens de censuur. Voor mijn gevoel geen belangwekkende uitgave. (2,5*) JM
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"Supõe que morri
(Aos mortos se escreve também algumas vezes)"
José Blanc de Portugal. -
It took me one year to read all the letters António (Lobo Antunes) wrote to his wife Maria José (Xavier da Fonseca e Costa) between January 1971 and January 1973. Too many letters, feelings and information to digest in a couple of weeks. Too much for my taste. So I took my time ... like a mouse eating a big chunk of cheese.
In August 1970 António and Maria José are married. Less than five months later he went to Angola as a drafted soldier (as a doctor and officer) for 27 months. She pregnant with daughter Maria José junior. The couple wrote almost on daily basis a handwritten letter to eachother. In this book only the transcibed and translated, from Portuguese to Dutch, letters from António. (Not all the letters according to the two daughters who took care for the publication.) Not one letter from her!
My notes:
* Most of the time I felt like a voyeur reading all those intimate letters.
* I felt sorry for both of them because I knew that a few years later they would end their relation.
* I was above all interested in the images being used for love and lust.
* How much he longed for having her close. To smell. To kiss. Her body close. To consume love.
* Boredom, depression, loneliness and despair.
* Weather: rain, too much rain, sun, too much sun, tunder and lightning.
* October 1971. For one month the couple was united in real life in Lisboa. António on November 3rd, 1971: the best month of my life, the most beautiful, most delicious and most exceptional.
* Até ao fim do mundo (English 'until the end of the world')? They wrote so many times the borrowed words of Inês de Castro (1325-1355) and future King Peter I of Portugal. Not really, António left Maria José in 1977. Or a "little"? He took care of her in the last months of her life. She died in 1999 of cancer.
For me this quote is the very heart of this book of love letters (April 1st, 1972; translated from Dutch version):
"You know, I persevere here because I focus my eyes on the future that we get, endlessly, just for us, to devour each other slowly, delightfully and lasciviously, like two octopuses sucking each other with their thousands of tentacles."
A book for voyeurs. To be devoured slowly. Now I can't wait to read António's first book 'Mémoria de Elefante' (1979). A book about their divorce. Why did they? -
que diferença de lisboa. não se pode viver numa cidade sem passado.
que redutor, chamar a este livro uma compilação de cartas quando é, também, um relato histórico, trazendo-nos um testemunho de duas realidades afectadas pela mesma guerra, uma obra auto-biográfica, e a exploração de um amor casado de fresco e separado pela guerra.
um livro completamente diferente de todos os que já li do autor. -
A privacidade de Lobo Antunes*
Privacidade...Sentimentos,amor e saudade!!!
"Coitados, pensavam que eu gostaria de ler histórias de pessoas sem contrastes, em que os bons são sempre bons e os maus sempre maus, e a bondade e a maldade se acham divididas por uma muralha da China bem definida, e ainda bem, para sabermos de que lado convém estar".
( António Lobo Antunes D'este viver aqui neste papel descripto) -
Podendo ser analisado por diversos prismas (história, romace, biografia) é um relato emocionante, e eu, uma eterna apaixonada por romances, derreti com este amor. Prova a impossibilidade de viver apenas de amor e uma cabana porque somos humanos e o ser humano é um ser social para o bem e para o mal. O que é certo é que fiquei com grande vontade de conhecer a obra de António Lobo Antunes. Quem escreve cartas assim! deixa uma expectativa elevada
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Este foi o primeiro livro que li do António Lobo Antunes. Este livro é uma compilação, feita pelas filhas do escritor, com as cartas que ele enviou à sua mulher na altura em que esteve na Guerra Colonial em Angola.
É um testemunho em primeira mão da Guerra Colonial: não só do que Lobo Antunes via mas também do que sentia ao estar 2 anos ao serviço das Forças Armadas.
Adorei o livro e acho que é uma leitura obrigatória para quem se interesse pelos temas de guerra e biografias. -
Um livro definitivamente altruísta. Ninguém imagina o sofrimento que ALA viveu, nem podemos imaginar, porque se abstém de o contar nestas cartas. Verdadeiras cartas de amor à mulher.
Contudo, deixa-me um tanto apreensiva que três anos depois de ter regressado a Portugal, o casal se tenha separado. Afinal o amor, até este que parecia tão forte, é efémero. Já deixei de ter esperança. -
«Somos de resto tão pouco inteligentes quando amamos... A bondade é sempre estúpida e a maldade espertalhona...»
«O amor é isso, penso eu (e quero eu): a total liberdade dentro da perfeita comunhão.» -
Um livro que transborda amor. As cartas são um relato do autor na guerra colonial em Angola. As cartas foram escritas sem o intuito de serem partilhadas e é talvez por isso que sejam tão sinceras e bonitas e que relatem uma relação amorosa sem filtros.
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Um livro que abre a janela, e nos deixa espreitar um pouco para quem é o autor. Um homem apaixonado, mas com as suas inseguranças e angústias. Aqui, pode ver-se também a sua dedicação à escrita, o constante esforço em melhorar e ser o melhor.
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Read halfway through. Put on hold.
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D’este viver aqui neste papel descripto: Cartas da guerra
Organizada por suas filhas, Maria José Lobo Antunes e Joana Lobo Antunes.
A obra reúne as cartas quase diárias, enviadas por António Lobo Antunes entre 1971 e 1973 à sua mulher Maria José, período em que combateu em Angola na Guerra Colonial. Com fotos de algumas das cartas originais e de fotografias trocadas pelo casal, o livro reúne quase trezentas cartas, nas quais, o então aspirante a escritor relata à sua esposa episódios da guerra, das barbaridades diárias e as saudades que sente da mulher amada. Ao longo das cartas percebemos a sua incompreensão da guerra e a tentativa quase desesperada e muitas vezes frustrada de se assumir como escritor.
O crescente desejo e as saudades da sua amada e o sofrimento da espera de cartas que por vezes não chegavam, sem que ele soubesse o porque .
Este livro é de uma intimidade tocante onde em cada carta, muitas autênticos poemas de amor, se percebe que estava a nascer um grande escritor.
Leiam vale muito a pena... -
Nunca li nada de António Lobo Antunes. Peguei uma vez num livro dele. Não gostei do que vi, pus de lado, e por aí me fiquei. Mas este volume atraiu-me enquanto eterno interessado na época em que nasci e vivi os meus primeiros anos e na guerra do Ultramar.
Como documento de época, como retrato do quotidiano do oficial miliciano em Angola tem o seu interesse. A figura de António Lobo Antunes não me parece sair bem no retrato. Não fiquei com a melhor das ideias deste autor histórico. Lê-se bem, recordarei este livro como um marco associado ás minhas primeiras semanas na nova casa de aldeia. -
Sinto não haver classificação possível para este compêndio de memórias. É um privilégio mergulhar neste viver, conhecer mais uma perspetiva da guerra colonial, dos bastidores da escrita, da intimidade de uma família em construção e tantas coisas mais. GTS
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Um importante documento histórico da guerra colonial em Angola através do relato de um amor interrompido.
Que viver este, neste papel descripto, nestas cartas, quase diárias, que aguardam resposta durante dias e que se escrevem a esferográfica, a aerograma, a envelope e selo, numa distância dilacerante de espera e de saudade, numa panaceia de palavras que, na suspensão de um instante, ergue uma ilusão de proximidade de outro lugar e daquela que é querida, amada e desejada com todas as forças da juventude. São, por isso, cartas de tremenda intimidade que nos fazem a nós, leitores intrusivos, oscilar entre a maravilha encantatória dos amantes e a sensação usurpadora de bisbilhotar na privacidade da conjugalidade vizinha.
Talvez o primeiro livro de Lobo Antunes.