Title | : | Doramar ou a Odisseia: histórias |
Author | : | |
Rating | : | |
ISBN | : | 6556921467 |
ISBN-10 | : | 9786556921464 |
Language | : | Portuguese |
Format Type | : | Paperback |
Number of Pages | : | 160 |
Publication | : | Published June 8, 2021 |
Doramar ou a Odisseia: histórias Reviews
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Ao iniciar a leitura dos 12 contos presentes na obra, esperava, invariavelmente, encontrar o autor de Torto Arado, isto é, um pouco de Bibiana, Belonísia e Zeca Chapéu Grande pelas páginas. No início não consegui, mas com o passar dos contos, como semeando aos poucos, tudo, mais e melhor do que há em Torto Arado se apresenta na presente obra.
As histórias presentes especialmente em Alma e A Oração do Carrasco foram de uma beleza adorável, que por si só já valeu a leitura. Ali não está somente o autor, está Martin Luther King, Lenon, Gandhi, Margarida Alves, Malcolm X, Garcia Lorca e tantos mais que foram perseguidos pelos carrascos da história, carrascos esses que “abordaram um ajudante de pedreiro em seu caminho para casa, na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, e desapareceram com seu corpo” (p.77).
E é assim, com crítica pungente, que o autor conversa conosco novamente acerta dos temas tão caros de sua trajetória, abordando pontos relacionados a escravidão, a mitigação da identidade afro, o machismo, a reforma agrária, os refugiados, a ditadura de 64, a destruição do meio ambiente, a deturpação da religião africana, a usurpação de propriedade, a questão indígena e a loucura da extrema-direita acerca de doutrinação ideológica nas escolas.
Embora não tenha conseguido gostar de todas histórias, com beleza ímpar, Itamar nos leva de Amarildo até o julgamento de Eichmann em Jerusalém, tudo isso, falando especialmente do amor a terra e sua ligação com o homem. É bom, mas não excelente. -
O meu primeiro contato com a escrita do Itamar Vieira Junior não foi com Torto Arado, livro que está na minha lista de futuras leituras desde que todo mundo começou a falar sobre. Ganhei Doramar ou a Odisseia de natal e achei que poderia inverter a ordem e começar por esse. E deu certo, porque agora eu quero ler Torto Arado ainda mais.
Doramar ou a Odisseia é uma coletânea de contos, então sinto que tive um gostinho do que a escrita do autor proporciona e a forma como ele desenvolve as suas histórias. Eu adorei. Achei um livro extremamente potente e um retrato incrível do Brasil (ou melhor, os diversos países e realidades que compõe o Brasil). Eu senti que cada um dos contos aborda uma temática importante para a compreensão do que é o Brasil e como o país se construiu ao longo dos anos. Itamar aborda o racismo, o machismo, os povos indígenas, a destruição do meio ambiente, refugiados, ditadura e mais. É um retrato. Honesto, forte e importante.
Por mais que eu tenha mais dificuldade de amar livros de contos, eu senti que a costura desse livro foi excepcional. Por mais que temos contos muito diferentes uns dos outros (em quesito de formas de narrativa e estrutura) eles se conversam entre si justamente por participarem de um todo e por todas as temáticas terem um diálogo tão necessário entre si. Isso tudo coexiste na vida fora dos livros e eu achei sensacional ver isso coexistindo também em uma obra de literatura -
" Você está perdido lá, onde o deixamos, arrasto com o barco tudo o que há dentro de mim. No momento oportuno subo em você, mar, com a ajuda desse barco, vou caminhando por você, mar, porque cansei de nadar e boiar no dia em que nos separamos, eu trocaria você, mar, para que ele voltasse para meus braços. "
( excerto do conto Meu Mar (Fé) )
Doramar ou a Odisseia é um livro de 12 contos muito diferente do primeiro livro que li do Itamar Vieira Junior, Torto Arado.
Neste livro encontrei uma narrativa mais lenta, poética e por vezes melancólica, que nos fala sobre a escravatura, as tradições indígenas, machismo e sobre o amor.
Alguns contos não me prenderam tanto, outros me arrebataram, como por exemplo: Alma; A Floresta do Adeus, O Que Queima ou Meu Mar (Fé) que nos mostram como Itamar sabe escrever com mestria e delicadeza sobre as mulheres e suas emoções.
Aconselho vivamente a leitura deste livro a quem já leu Torto Arado mas principalmente a quem queira conhecer este escritor tão talentoso. -
Doramar ou a Odisseia foi a minha segunda experiência com o autor, a primeira foi com o livro Torto Arado. Eu diria que, ao mesmo tempo em que temos um resgate das lembranças de Torto arado, as obras também se diferem completamente. Em TA a gente encontra uma narrativa mais direta, quando aqui eu sinto que o autor pode experimentar muito mais em seus modos de escrever. Em Doramar eu pude encontrar uma narrativa mais poética, várias divagações até, que trouxeram um impacto e emoção muito maiores, ao mesmo tempo em que tornaram a leitura um pouco mais lenta de absorver. Por conta disso eu levei um pouco mais de tempo, apesar de não ser um livro longo, pelo contrário.
Aqui encontramos diversos contos que conversam muito com as críticas que encontramos em TA, contos que falam de ancestralismo, falam sobre o passado escravagista, tradições indígenas, machismo, desmatamento e podemos encontrar até críticas à extrema-direita, todos temas muito relevantes para a nossa situação atual, mas que também nos permite resgatar muito do nosso passado.
Confesso que nem todos os contos me agradaram, tive alguns que li mais devagar por não me prenderem tanto, mas alguns certamente me impactaram muito e até me emocionaram, entre eles: Alma; O espírito aboni das coisas; Voltar; e o manto da apresentação, que conversou muito bem com todos os outros contos e encerrou perfeitamente o livro.
Recomendo muito a leitura deste livro, principalmente após Torto Arado ❤ -
Itamar Vieira Junior é um escritor de causas. Quem já leu “Torto Arado”, sabe o quanto as desigualdades sociais, o trabalho escravo ou a violência de género, a par com os atropelos ambientais, são alvo das suas preocupações e da sua luta. Nesse sentido, a literatura é uma arma ao serviço da denúncia de uma sociedade dominada por interesses obscuros, de políticos corruptos, da exploração crescente que cilindra os mais desfavorecidos, do fosso cada vez mais fundo entre ricos e pobres, tudo isto num planeta doente, moribundo, para o qual não há plano B. Mas se Itamar Vieira Junior prova, com “Torto Arado”, ser um extraordinário romancista, a sua faceta de contista não é menos notável. Vem isto a propósito de “Doramar ou A Odisseia”, um livro que acaba de ser publicado entre nós e que reúne doze textos, alguns deles publicados em “A Oração do Carrasco” (2017), aos quais o autor acrescentou um conjunto de inéditos de feitura anterior ou mais recente.
No afã de um fascinante tricotar de palavras, na singularidades dos seus sentidos e na beleza do seu contar, Itamar Vieira Junior oferece-nos um vasto e riquíssimo leque de contos, todos diferentes entre si, mas com um mesmo tom a uni-los. Um tom poético, suave como uma carícia, moldado no verde profundo da floresta, na água da chuva que cai incessante, no brilho do relâmpago ou no vermelho sangue que corre nas veias, irmanado com a matéria e os seus elementos, respeitados e adorados pelo homem que com eles comunga todos os dias, a quem entrega o seu querer e a sua vida. São textos que encontram continuidade em “Torto Arado” e se prolongam para além dele, conferindo força e coerência ao conjunto da obra do autor. Textos onde o céu é “neme” e a terra é “wami”, o rio é “faha” e o peixe é “aba”, os espíritos são “aboni” e o coração é “ati boti”, exaltantes na sua pureza, inspiradores no apego à mãe natureza e a todos os seus filhos.
Homens e mulheres roubados à terra e enviados para o outro lado do mar em barcos de negreiros, milhares de migrantes cujas balsas os despejam às portas da Europa ou se afundam no meio do Mediterrâneo, deserdados da terra em nome do progresso, criados de servir que se rebelam contra a sua condição - em todos escutamos uma voz a gritar liberdade. Homens e mulheres que, “com seu senso de humanidade interromperam guerras, sofreram dores, atravessaram desertos, viveram odisseias, transpuseram muros e cercas, forjaram a liberdade nas entranhas do seu ventre.” É nelas e neles que o autor se revê, é com eles que partilha inquietações e medos, mas também a esperança e a ânsia de um viver melhor e mais digno. Por isso nos lembra que, por muito altos que se ergam, os muros derrubar-se-ão; por muito que a destruam, a floresta renovar-se-á; por muito humilhados que sejam, os homens revoltar-se-ão. E a sua revolta espalhar-se-á. E, na sua luta por justiça e igualdade, vencerão! -
Contrariando o sentimento geral, Torto Arado não foi das leituras mais marcantes para mim. Mas com "Doramar ou a Odisseia" foi diferente.
Os contos parecem ensaios para Torto Arado, tanto na forma quanto no conteúdo: o lirismo, a alternância de narradores, a centralidade das personagens femininas, a ligação do povo brasileiro com a terra e com sua ancestralidade, a luta de classes estão lá. Ao mesmo tempo, a coletânea é mais ampla. O campo, a mata, a cidade, o litoral se intercalam nas paisagens. O contemporâneo e o histórico se intercalam no tempo. Textos mais secos se intercalam com outros mais poéticos.
E os contos, por serem mais enxutos do que o romance, são também mais potentes.
Destaque absoluto para o conto "Alma", um texto como o de Raduan Nassar, que machuca como um Graciliano e tem um enredo com um toque de Tarantino.
Como todas as reuniões de contos, Doramar tem altos e baixos, mas os altos se sobressaem - e muito. -
Quando peguei o livro em mãos, fiquei empolgada por reencontrar a escrita do Itamar Vieira Junior. Torto Arado me impactou de tal forma que as expectativas eram muito altas... Ainda não sei se isso foi o que prejudicou a leitura de Doramar ou a Odisseia ou o que me incentivou a ler os contos até o final, à procura de um pouco da experiência anterior. O fato é que as temáticas dos contos, as sinopses são muito boas. Voltar é uma delícia. Mas em geral a forma como eles foram escritos (e são bastante diferentes entre si!) não me agradou, não me engajou. Ainda gostaria de encontrar o autor de Torto Arado em uma nova obra.
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Irregular. I mean, Itamar maneja bem as temáticas características e essenciais para a literatura brasileira. Percebe-se com muita clareza que é herdeiro de Raduan Nassar com toques de Guimarães Rosa. Mas senti falta de uma coesão melhor nos contos. Talvez tenha lido rápido demais e não tenha degustado como se deve. Mas as alternâncias tão bruscas de vozes e narrador dão mais uma sensação de desnorteamento do que qualquer outra coisa. Salva-se "Alma", "oração do carrasco", os mais longos em geral. Mas os curtos, ali pra preencher o miolo, nossa. Um autor importante, uma voz importante, sem sombra de dúvidas. Mas talvez só não seja meu tipo de literatura memo.
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1. Eu realmente não sou a maior fã de contos. 2. A nota três foi meio que uma média porque eu me emocionei com alguns contos maaaaas outros tive a sensação de que estavam inacabados e não gostei.
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O soteropolitano Itamar Vieira Júnior, nascido em 1979, geógrafo, doutor em estudos étnicos e africanos pela UFBA é, hoje, escritor consagrado. Seu romance de 2019 – “Torto Arado” – venceu o prêmio Leya, além de receber os prêmios Oceanos e Jabuti e de estar sendo traduzido para mais de uma dezena de idiomas.
“Doramar ou a Odisseia” é um conjunto de relatos breves mas contundentes em que o autor desvela o nosso passado (e presente) eivado de tradições de origem africana e, ou indígena além de, mais uma vez, como na saga das irmãs Bibiana e Belonísia presente em “Torto Arado”, desenvolver personagens femininas fortes e marcantes.
Os contos são ótimos com a exceção de “manto da apresentação”, confusa e algo verborrágica homenagem ao artista Arthur Bispo do Rosário.
Merecem destaque “A floresta do Adeus” (pungente relato sobre um trágico amor na perspectiva de Rosa, separada forçosamente do seu amado), “Farol das Almas” (contundente e breve relato centrado no papel do braço escravizado na construção daquilo que chamamos de Brasil), “O que queima” (relato um tanto fantástico e fantasmagórico sobre um casal que se muda para a “casa dos sonhos” que acaba se transformando em um pesadelo), “Alma” (cativante e emocionante relato de uma escravizada em fuga), “Na profundeza do lago” (relato com um “quê” de gótico em que uma sensível mulher se depara com um terrível segredo), “Meu mar (fé)” (que aborda a questão de todos aqueles que se aventuram longe de sua terra natal em busca de uma vida melhor), “Doramar ou a Odisseia” ( que nos traz a empregada doméstica Doramar e seu despertar para toda a opressão que ela sofria no seu dia-a-dia) e “Voltar” (que nos revela a sofrida vida de Divina, uma senhora que se recusa a deixar a sua casa localizada numa área que está para ser alagada).
Itamar Vieira Junior, indubitavelmente, é autor de uma obra que merece ser seguida neste Brasil em que a literatura é tão menosprezada.
Ótima pedida!
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demorei um pouco pra pegar no tranco, mas a partir do terceiro conto, acho que teve uma ótima sequência e fluidez de altos e baixos entre os contos. é impressionante como em duas páginas eu já sinto o impacto da narrativa e entendo o sentimento que o autor quis passar, gosto muito disso na escrita dele.
li esse depois de Torto Arado, e confesso que estava com altas expectativas, que foram supridas no geral. em especial, Alma e A Oração do Carrasco foram excepcionais e com pontos de vista únicos, realmente algo que eu nunca tinha lido parecido. o desenvolvimento se deu até o ponto certo, o ideal quando se trata de contos.
além disso, a sequência dos capítulos Meu mar (fé) e Doramar ou a odisseia são realmente o ponto alto do livro. apesar das poucas páginas, são muitos os temas, problemáticas e discursos abordados magistralmente pelo autor. também tive uma boa surpresa com o último conto, com uma genial homenagem a um artista do meu estado. -
que felicidade foi descobrir a arte de Itamar Vieira Júnior em 2021!!! Doramar ou a Odisseia traz toda a sensibilidade e profundidade desse autor excepcional. fui com bastante expectativa depois de ler Torto Arado e não me decepcionei. meus contos favoritos foram "Meu mar (fé)", que traz a dor e a angústia de esperar por e não desistir de alguém que foi arrancado de você e que nunca mais irá voltar, assim como "Doramar ou a odisseia", que revela as sequelas da escravidão que maltratam até hoje, ao retratar as agruras de uma mulher negra que vive como empregada doméstica e que presenciou muitas violências e perdas. "Voltar" também me tocou muito, pois não tem como não se sensibilizar com a determinação e a dor de Divina, uma senhora que vive para reparar um certo arrependimento do passado, quando teve de fazer escolhas difíceis. uma das melhores leituras do ano! 🤍
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Se você não conhece Itamar Vieira Jr, não recomendo iniciar sua leitura com esse livro (recomendo com Torto Arado ou Salvar o Fogo). Fora isso, achei um livro cheio de sentimentos, a escrita flui na velocidade de nossos pensamentos e emoções, sem pontos finais. Como toda leitura do Itamar, também é carregado de muita ancestralidade afro indígena, com viagens no tempo pré e pós escravagista, carregando todas as cicatrizes disso tudo.
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Entre os seus dois exitosos romances Torto arado (2019) e Salvar o fogo (2023), Vieira Júnior publicou esta coleção de contos, embora alguns deles já tivessem sido publicados e até premiados antes do fenômeno literário e social do seu primeiro romance.
Como já escrevi na minha resenha de Salvar o fogo, não compartilho totalmente a aparente unanimidade crítica sobre a escrita do autor, e tenho algumas reticências com ambos os romances. Por isso, surpreendeu-me gratamente Doramar.
Parece-me que o formato curto favoreceu a experimentação com vozes e temáticas novas e mais diversificadas. Embora parte dos contos compartilhem o universo neorrealista e histórico que é a "marca registrada” do autor, outros aprofundam-se numa distopia autoritária contextualizada na sua provável produção nos anos que seguem ao golpe legalizado contra Dilma Rousseff: os tenebrosos anos que se iniciam no governo Temer e só concluem com a posse de Lula em janeiro de 2023. Alguns, ainda, enveredam-se pelos caminhos do maravilhoso.
Nesses contos, mesmo sem abandonar um certo doutrinarismo, o autor permite-se explorar as ambiguidades morais e as contradições humanas com maior liberdade criativa, apontando caminhos possíveis para a sua produção futura.
Ouvi o livro na plataforma Audible, e penso que o trabalho do ator Ivan Velame contribuiu também para a apreciação do livro. -
É sempre difícil dar nota para um livro de contos, porque sempre gosto mais de alguns do que de outros. Meus preferidos deste livro foram:
"A oração do carrasco"
"Na profundeza do lago"
"Meu mar (fé)"
"Voltar"
"manto da apresentação" -
Teve um parágrafo com 8 páginas de duração
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Após o sucesso arrebatador de “Torto Arado”, Itamar Vieira Júnior republica o seu livro de contos, agora intitulado “Doramar ou a Odisseia: Histórias”, pela editora todavia. A obra traz novos contos, escritos após “Torto Arado”, e traz os elementos que serviram de inspiração para o universo construído em sua obra premiada: o mergulho no Brasil profundo, a ascentralidade, a herança escravagista e patriarcal do Brasil, a relaç��o do homem com a terra e os sentimentos universais e atemporais que tão bem caracterizam a literatura de Itamar. Em seus contos, acompanhamos a sina dos escravizados no Brasil, a luta dos povos refugiados em busca de melhores condições de vida, as tradições indígenas apagadas ao longo da nossa história, mas que ao mesmo tempo nos definem, as vozes negras femininas silenciadas. No estilo que já caracteriza a sua escrita, Itamar apresenta, como ninguém, a alternância de narradores, dando voz a quem nunca teve a oportunidade de se manifestar. Na obra relançada e potencializada, Itamar supera com destreza o desafio que se impõe a qualquer livro de contos: suas histórias tem unicidade.
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acho que fui com muita sede ao pote depois de torto arado e acabei me decepcionando. tem uns contos bons mas a maioria foram só... ok
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“Doramar ou a odisseia” é o conto que empresta nome a essa coletânea de Itamar Vieira Júnior que, mantidas as particularidades do gênero, poderia facilmente ser encarada como um romance, à maneira de uma “biografia do Brasil”, para referirmo-nos a título caro a Lilian Schwarcz, mas, diferente do esforço historiográfico desta, construída a partir de um exercício ficcional que tematiza as subjetividades que (sobre)vivem à revelia de uma objetividade que tenta subjulgá-las e mesmo exterminá-las intencional e sistematicamente. Em outras palavras e aludindo a uma ilustração metafórica mobilizada pelo autor no texto “Voltar”, este é um livro sobre as histórias que precisaram ser apagadas para que a “luz” da história hegemônica fosse acesa: as mulheres que foram encarregadas da política do cuidado (com a casa, com os maridos, com os filhos etc) e, em razão disso, precisaram abrir mão do “sonho da morada e da vida próprias”; o cativeiro das que são “como se fosse da família”, mas na condição de patrimônio; as sendas de fuga e sobrevivência trilhadas pelos/as que foram escravizados/as; os que, como Dom e Bruno, foram vitimados por carrascos, estes mesmos tributários de um contexto de violência política generalizada; a parteira de idade avançada cuja casa lhe é expropriada e em seguida inundada em favor da fundação de uma hidrelétrica.
A leitura desses fios de história que compõem uma tessitura heterogênea, assaz distinta da homogeneidade artificiosa pressuposta pela ideia de nação, nos remete a empreendimentos análogos operados por outros autores latino-americanos. Aqui, me refiro especialmente às “Coisas que perdemos no fogo” da argentina Mariana Enriquez, que constrói algo como um “terror” que, na contramão dos cânones estadunidenses, os quais lançam mão do sobrenatural para gerar efeitos de medo e apreensão, se faz precisamente a partir de um hiper-realismo que traz a tona histórias que, não obstante obscurecidas e sistematicamente ignoradas, se interpõem ao nosso cotidiano a todo instante: a da mulher brasileira que nasceu “macho e uruguaio”, ou da que teve o braço amputado e gera medo nas crianças que crescem em uma sociedade capacitista, ou ainda dos crimes cuja origem encontra-se no complicado entroncamento da extrema pobreza com o estímulo ao consumismo desenfreado.
Tanto na obra do brasileiro quanto na de seu par argentino, a necessidade de gerar desconforto e questionar um cotidiano que, a muitos/as, soa como pesadelo. -
A primeira parte do livro me emocionou bastante, sobremaneira pelas inúmeras referências a tradições e memórias, assim como pelos relatos sobre a escravidão. Tudo narrado com a já conhecida maestria do autor, cujos contos — alguns já publicados e outros inéditos — foram reunidos nesta obra espetacular. Embora o livro possa ser emocionalmente pesado em alguns momentos é equilibrado por momentos de esperança e resistência; combinação de realismo brutal e otimismo cauteloso.
★★★★
La primera parte del libro me emocionó mucho, especialmente por las numerosas referencias a tradiciones y recuerdos, así como por los relatos sobre la esclavitud. Todo narrado con la ya conocida maestría del autor, cuyos cuentos, algunos ya publicados y otros inéditos, se han reunido en esta obra espectacular. Aunque el libro puede ser emocionalmente pesado en algunos momentos, se equilibra con momentos de esperanza y resistencia; combinación de realismo brutal y optimismo cauteloso.
★★★★
La prima parte del libro mi ha molto emozionato, soprattutto per le numerose referenze a tradizioni e ricordi, così come per i racconti sulla schiavitù. Tutto narrato con la già nota maestria dell’autore, le cui storie, alcune già pubblicate e altre inedite, sono state raccolte in quest’opera spettacolare. Anche se il libro può essere emotivamente pesante in alcuni momenti, è bilanciato da momenti di speranza e resistenza; combinazione di realismo brutale e ottimismo cauto.
★★★★
The first part of the book moved me a lot, especially because of the numerous references to traditions and memories, as well as the reports on slavery. Everything narrated with the author’s already known mastery, whose tales — some already published and others unpublished — were gathered in this spectacular work. Although the book can be emotionally heavy at times, it is balanced by moments of hope and resistance; combination of brutal realism and cautious optimism. -
4.5
Eu tenho uma relação de muita admiração pelo Itamar Vieira Junior, tanto como pessoa quanto como escritor. Ele tem uma das escritas mais poéticas e ao mesmo tempo mais reais que eu já li por um artista brasileiro. Em todas as suas obras eu fico impressionada com sua forma de usar a palavra certa no momento ideal para gerar o impacto desejado. É uma forma ímpar de contar uma história do mundo e do Brasil, o porque estamos onde estamos e para onde rumamos. A sua formação também influencia muito o seu trabalho, as relações humanas com a terra e com o mar tem grande papel no livro. Eu tenho a impressão de que parte das razões por esse meu amor é a relevância da geografia em cada personagem, descrição e palavra. Outro ponto que me chama muita atenção, não só em “Doramar ou a Odisseia: histórias” mas também em “Torto Arado” é a sua delicadeza e veracidade sobre a vivência da mulher. Muitos poucos escritores homens alcançaram essa maestria, as dores e as alegrias da existência da mulher, em suas diversas idades, raças, classe e etc são muito bem feitas e me tocaram muito, porque mesmo onde eu não me via, eu via outra mulher que faz parte da minha vida. -
Ainda não li o laureado “Torto Arado”, pelo que este foi o meu primeiro contacto com a escrita do Itamar
É uma escrita aparentemente simples, munida de grande lirismo. Tudo tem varios sentidos e interpretações e acima de tudo, a grande bandeira desta obra são as mulheres, maioritariamente negras e indigenas, a desigualdade, a natureza, os extremos da vida.
Este pequeno livro é uma coletanea de contos que dá voz aos invisiveis do Brasil; ha contos de tempos distantes sobre navios negreiros, até ao ecocidio e ganancia actuais da Amazonia.
Gostei, porque não se pode negar a importancia dos temas aqui colocados. Mas por algum motivo o livro não entrou em conexao com a minha alma… faltou aquele algo que raras vezes se consegue definir.
Ainda assim recomendo vivamente esta obra para que nos questionemos, abramos a mente. Sobretudo o conto “Oração do Carrasco” é realmente genial, e poucos conseguiriam escreve-lo; é um conto que nos leva a sair do julgamento e a entrar num estado maximo de empatia, a questionar se realmente existe o mal e os vilões ou se todos fazemos apenas o que consideramos certo. -
"Fiz uma prece tão pequena ao tempo para que ele nos congelasse num instante, que os relógios do Sul e do Norte parassem para sempre, que nossos olhos jamais se desencontrassem, que a cerca se desmanchasse como neve (...)"
Que livro bonito! Doramar ou a Odisseia tem o tipo de conto que eu gosto: um pouco mais longo, com vozes que se alternam, com um tempo que muda quase sem que a gente perceba (mas a gente percebe) e com uma linguagem bonita, poética. Contos que não são datados totalmente, nem localizados totalmente (alguns são) e por isso mesmo tem aquele caráter universal.
Meu conto favorito foi A Floresta do Adeus, a primeira história. Linda, de partir o coração. Também gostei muito de Alma, que já conhecia porque estava disponível na loja Kindle. O espírito aboni das coisas e inquieto rumor da paisagem também são lindos. E a oração do Carrasco é de deixar a gente com vontade de chorar ? eu li no Uber, e tive que dar uma paradinha senão chorava mesmo hahaha.
É um livro muito bonito, com histórias muito bonitas. Se você puder, leia esse livro. -
Para quem leu Torto Arado e ficou com gosto de quero mais, essa coletânea de contos do mesmo autor pode ser uma boa pedida. Algumas das histórias que mais me chamaram a atenção, além da que leva o nome do livro, foram "A Floresta do Adeus", "A Oração do Carrasco" e "O Espírito Aboni das Coisas". Nessa última, a forma como as palavras indígenas e suas respectivas traduções vão aparecendo se encaixam tão bem no conto que dá pra sentir que estamos lá, subindo o rio na canoa e sentindo a floresta ao entorno. Outros contos chocam ao mostrar algumas verdades que não queremos ver e tentamos ignorar por ser mais fácil viver assim, fechando os olhos para aquilo que nos incomoda. Em resumo, recomendo tanto para quem já tinha gostado do seu estilo como para quem ainda não teve a oportunidade de conhecê-lo.
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Doramar ou a odisseia foi a minha primeira leitura/experiência com Itamar Jr. É um livro de 12 contos que retrata de uma forma muito real, sensível e forte as dores e as delícias de pessoas que, geralmente, são esquecidas em outras narrativas. Gostei da maioria dos contos, sendo os meus preferidos Alma, A oração do carrasco, Meu mar (fé) e Voltar; as histórias me prenderam -até me tirou o fôlego em alguns momentos-, principalmente pela sensibilidade do autor ao contar histórias de pessoas reais, com dores e vivências reais, sem maquiagem, sem rodeios. Impossível sair ilesa após a leitura dos contos que citei acima. No entanto, alguns outros contos não foram tão bons (para mim), uma leitura meio “empacada” e que não prendeu a minha atenção, por isso dei 4 estrelas. Ainda assim, recomendo a leitura.
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Livro de 12 contos de Itamar Viera Jr, autor de Torto Arado.
Assim como o romance que deu fama ao escritor, os contos se concentram em questões sociais brasileiras.
As passagens transcendem tempo e espaço, enfatizando a ancestralidade do povo brasileiro e as mulheres fortes que resistem às dificuldades e às injustiças vivídas ao longo dos séculos.
Diferente de livros como Vidas Secas, em que se usa a crueza para retratar a vulnerabilidade e resistência, aqui o autor opta por uma prosa cheia de lirismo que envolve o leitor com as belas descrições e um ritmo fluente.
A contradição entre o lírico e o duro, entre o belo e o sofrido, logo se dissipa quando enxergamos a beleza da resistência nos protagonistas dos contos.