O Mundo Codificado by Vilém Flusser


O Mundo Codificado
Title : O Mundo Codificado
Author :
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ISBN : 8575035932
ISBN-10 : 9788575035931
Language : Portuguese
Format Type : Paperback
Number of Pages : 224
Publication : First published November 1, 1998

A obra de Vilém Flusser (1920-1991) desvenda a tentativa milenar da humanidade de superar suas limitações físicas por meio da tecnologia. Nesse processo, o autor demonstra que os designers, embora tenham um papel central, caminham sobre um chão conceitual muito frágil. As teorias apresentadas destroem lugares comuns e verdades superficiais, além de lançarem luz sobre problemas que sequer começamos a enfrentar.

Flusser, filósofo nascido em Praga, na atual República Tcheca, passou cerca de 30 anos de sua vida no Brasil, onde engajou-se no debate filosófico, contribuindo com escritos para a Revista Brasileira de Filosofia e para os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo. Os textos reunidos em O mundo codificado trazem a marca da melhor produção do autor: são curtos, rápidos, claros, precisos, incisivos, mas, como afirma Rafael Cardoso, organizador da edição, "que ninguém se engane com a aparência amena dessa água, cuja superfície transparente esconde a profundidade vivente de um oceano!".

Essencial à formação de qualquer designer, o livro é referência obrigatória para se entender melhor a encruzilhada entre a materialidade temporal e a imaterialidade eternizada à qual nossa cultura parece estar chegando. O projeto gráfico arrojad


O Mundo Codificado Reviews


  • Guilherme Smee

    Na introdução deste livro o designer e estudioso brasileiro, Rafael Cardoso, diz que a linguagem flusseriana é de fácil acesso se comparado a outros livros teóricos sobre o assunto. Discordo. Não acho que a linguagem seja fácil e nem que a leitura seja tão prazerosa e fluida como Rafael destaca. Vilém Flusser viveu a maior parte do tempo de sua vida no Brasil e, como muitos teóricos do tipo, nunca foi muito reconhecido aqui, tendo sido mais publicado lá fora. Sua linguagem é bastante técnica e que gosta muito de trabalhar a morfologia das palvras - isso às vezes torna seu estilo bem chato. Mas é interessante a visão dele de como o mundo foi estruturado a partir do design e da comunicação como ferramentas essenciais da linguagem, que dá sentido a todo ele. Mas, mais uma vez encontro um erro de intenção editorial. Comprei o livro achando que ele iria abordar códigos de linguagem e coisas parecidas, mas somente um capítulo (muito bom por sinal) aborda essa prática. A maioria dos capítulos aborda a produção humana, na forma da fábrica, como Flusser define a produção do design e da comunicação, como formas de produtos humanos, que podem ser trocados e, portanto, mercantilizados. Um bom livro, mas que não entrega o que ele vende.

  • Fábio

    “O mundo codificado” é uma coletânea de trabalhos estrangeiros e tardios do filósofo Vilém Flusser. Tardios, pois foram originalmente publicados ao redor de 1991, quando foi atropelado em Praga, sua cidade natal, ao revê-la após cinquenta anos. Estrangeiros, pois, diferentemente de suas primeiras obras (como “Língua e Realidade”), não foram escritos em português — ainda que, sobre a produção de Flusser, se possa dizer que é inteiramente estrangeira; por conta de suas migrações, ele se denominava Bodenlos: o homem sem chão.

    O objetivo de Rafael Cardoso, que assina a organização deste livro, foi o de reunir ensaios que abarcassem uma filosofia do design e da comunicação segundo o autor. Como fundo, a noção de que informar (isto é, in + formar = dar forma a) é fabricar; logo, informação é fabricação — de “Coisas”, “Códigos” e “Construções”: as três partes nas quais Cardoso dividiu o livro. No fim das contas, informar e fabricar se tratam de dois lados da mesma moeda: a pulsão humana por dotar o mundo de sentido por meio da técnica.

    Flusser abomina as notas de rodapé e a enxurrada de referências, ambas tão usuais em textos filosóficos. Sua prosa é absolutamente clara, tão direta que poderia parecer simplória. Contudo, se a sua linha de raciocínio é fácil de acompanhar, o mesmo não se pode dizer da extensão das ideias que o autor apresenta. Primeiramente, porque Flusser é um aficcionado por linguagem e detém uma habilidade ímpar em empregar os múltiplos sentidos de uma palavra simultaneamente (e, aqui, cumprimento a tradutora Raquel Abi-Sâmara) — é o caso, por exemplo, de “superficialidade”, que diz respeito tanto às mídias visuais, dispostas em um espaço bidimensional, quanto à ausência de profundidade de um determinado discurso — ou, ainda, em apontar as incoerências entre esses sentidos (como em “objeto/objetivo/objeção” ou em “arte/artificial/artifício/artefato/artífice/artesão/artista/artesanato”).

    Segundo, porque as ideias que o autor apresenta são reflexivas: “[…] um sapateiro não faz unicamente sapatos de couro, mas também, por meio de sua atividade, faz de si mesmo um sapateiro.” Ou seja: o homem cria códigos e, através dele, se torna “homem-código”. Com seus códigos, o “homem-código” cria objetos, técnicas, arranjos sociais e, através destes, se constitui naquilo que, hoje, reconhecemos como o “homem-coisa-código-construção”. Nesse processo, esse homem cria novos códigos para criar novas coisas e assim sucessivamente. Ou seja, Flusser borra a dicotomia “natureza/cultura” — a natureza intocada pelas mãos sempre é, antes, tocada pela linguagem — e, também, as dicotomias “representação/referente”, “signo/coisa-em-si” e “teoria/prática da linguagem”.

    Finalmente, porque ficamos embasbacados com a sua presciência relativa a tecnologias como a computação gráfica, a internet e os algoritmos que passariam a reger a vida das pessoas. Afinal, vivemos em um mundo que criamos, que codificamos, que desenhamos, que designamos. “Por isso, é como se a sociedade do futuro, imaterial, se dividisse em duas classes: a dos programadores e a dos programados. […] Não: a sociedade do futuro, imaterial, será uma sociedade sem classes, uma sociedade de programados programadores. Essa é portanto a liberdade de decisão que nos é aberta pela emancipação do trabalho. Totalitarismo programado. Mas trata-se certamente de um totalitarismo extremamente satisfatório, pois os programas são cada vez melhores. […] São tão numerosas as teclas disponíveis que as pontas dos meus dedos jamais poderão tocá-las todas. Por isso tenha impressão de ser totalmente livre nas decisões. O totalitarismo programador, se estiver algum dia consumado, nunca será identificado por aqueles que dele façam parte: será invisível para eles. Só se faz visível agora, em seu estado embrionário. Somos talvez a última geração que pode ver com clareza o que vem acontecendo por aqui.”

    Nas palavras de Cardoso, “[a]pesar do humanismo profundo que a motiva, a filosofia flusseriana não aponta para uma apoteose da humanidade.” Mas tampouco poderíamos classificá-la de pessimista. Sendo Flusser um apaixonado pela linguagem, creio haver muito de Wittgenstein em suas ideias. As noções de “verdade” e “realidade” do mundo, impostas pela linguagem, nos trazem problemas. Flusser diz: “Enquanto no Ocidente o design revela um homem que interfere no mundo, no Oriente ele é [ou era…] muito mais o modo como os homens emergem do mundo para experimentá-lo”. Talvez, então, devamos abandonar tais noções para, com isso, não salvar esse mundo, mas recriá-lo. Redesenhar o mundo.

  • Cicero Marra

    Interessante, mas não enche barriga.

  • Marília

    Flusser apresenta uma linha de abstração do pensamento sobre o mundo. Ele usa elementos geométricos para deixar claro esse caminho de abstração, vemos o mundo, sólido, pouco a pouco se tornando superfície, linha e, enfim, ponto.
    É incrível a visão ampla e atual que Flusser consegue ter nas análises de imagens digitais.
    Ao propor a abstração do mundo via códigos, Flusser também aponta para um mundo concebido por esses códigos e não mais que concebe. Colocando o humano como usuário do código que concebe o mundo e aproximando o conceber do design, ele também aponta para um novo humano designer.
    A maneira de experenciar o mundo é uma escolha de design.

  • Giovanni Watanabe

    Flusser traz um olhar que parece eterno (o segundo olho da alma, como diz em um dos trechos do livro) sobre design, comunicação, mídias, comportamentos e coisas. Suas reflexões e apontamentos sobre o avanço da cultura escrita e de superfícies levanta discussões bastante atuais.
    O último capítulo é o ponto bem fraco do livro ao trazer reflexões bem eurocentricas em relação ao design “oriental”. Esse capítulo traz preconceitos e reduz grande parte da cultura asiática a cultura japonesa. Um olhar até certo ponto compreensível se considerarmos a data em que o texto foi construído, mas ao mesmo tempo é importante destacar.

  • Pedro de Albuquerque Borges

    O livro apresenta uma série de ensaios, com um fundo filosófico, onde o autor nos mostra a relação do homem e da construção/interpretação do mundo a sua volta. O mundo codificado são as diversas maneiras desenvolvidas pelo homem, para interpretar a superfície imagética em que ele se encontra, e como tais interpretações influenciam nosso pensamento, criação, produção e vida.

  • Natalia Grein

    This is an extremely beautiful, practical, unique edition. COSAC NAIFY has always had the most impeccable book designs in Brazil, so I’m devastated — and, at the same time, extremely grateful — to have found this lovely book right after its publishing company came to an end.
    It saddens me, though, that gringos will probably never have the opportunity to read Vilém Flusser by the metaphorical eyes of this edition. Its types, linework and book cover all contribute to an industrial, almost futuristic atmosphere that leads towards the most intelligent, well structured lines of thought I’ve had the luck to follow this year. With that said, let’s talk a little about what the author has to say.
    Vilém, who wrote some pieces in German, French, English and Portuguese, is probably one of the most — if not THE most — important philosophers in what concerns Contemporary Design and Design Theory. His visionary anecdotes are still extremely valuable and appliable to modern society, even though some of his best work was written in the 1980’s. So, as he analyzes the etymology for the main principles of Industrial Design, the Czech author outlines a smart, cunning web that ties the Industrial Revolutions to the way the man relates himself to factories — and the way factories relate themselves to the man.
    I’ve read this four times already and it always has something new to teach me. Yeah, it’s one of THOSE kinds of books. So, if one day you find yourself with one of these in your hands, I highly recommend reading it to its core. You won’t regret it, I promise.

  • Walter

    Leitura crucial para compreender mundo que criamos e em que vivemos. Uma visão profunda sobre o significado de estar no mundo e buscar a comunicação em suas diversas facetas.

  • Eduardo Souza


    https://revistarecorte.com.br/artigos...

  • Gregory Milani


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  • Gregory Milani


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  • Thais Nunes

    "Para resumir isso, faremos uma pequena digressão sobre os códigos: um código é um sistema de símbolos. Seu objetivo é possibilitar a comunicação entre os homens. Como os símbolos são fenômenos que substituem (significam) outros fenômenos, a comunicação é, portanto, uma substituição: ela substitui a vivência daquilo a que se refere. Os homens têm de se entender mutuamente por meio dos códigos, pois perderam o contato direto com o significado dos símbolos. O homem é um animal alienado (verfremdet) e vê-se obrigado a criar símbolos e a ordená-los em códigos, caso queira transpor o abismo que há entre ele e o mundo. Ele precisa mediar (vermitteln), precisa dar um sentido ao mundo (FLUSSER, 2007, p. 130)"

  • Ana Rosa

    Comecei o livro por indicação de um amigo designer, sem grandes pretensões para minha própria área (escrita), e hoje é um dos primeiros da prateleira de estudo. Flusser estava muito a frente do seu tempo, principalmente em entender as frustrações que vivemos (e iremos continuar a viver) ao nos encaixarmos no mundo atual.

    O livro não é fácil de ler, como uma leitura de final de dia. Com o tempo, porém, você se acostuma com a escrita dele, entende as conexões e etc. É empolgante.

    Indicação especial para quem está estudando imaginário, simbologias e todo trabalho que envolve "ler o mundo".