Torto Arado by Itamar Vieira Junior


Torto Arado
Title : Torto Arado
Author :
Rating :
ISBN : 9896605777
ISBN-10 : 9789896605773
Language : Portuguese
Format Type : Paperback
Number of Pages : 280
Publication : First published August 1, 2019
Awards : Prémio LeYa (2018), Prêmio Jabuti Romance Literário (2020)

Vencedor dos prémios LeYa (2018) e Jabuti, finalista do Oceanos (2020). Um livro comovente que traz a herança dos clássicos. Bibiana e Belonísia são filhas de trabalhadores de uma fazenda no Sertão da Bahia, descendentes de escravos para quem a abolição nunca passou de uma data marcada no calendário. Intrigadas com uma mala misteriosa sob a cama da avó, pagam o atrevimento de lhe pôr a mão com um acidente que mudará para sempre as suas vidas, tornando-as tão dependentes que uma será até a voz da outra. Porém, com o avançar dos anos, a proximidade vai desfazer-se com a perspectiva que cada uma tem sobre o que as rodeia: enquanto Belonísia parece satisfeita com o trabalho na fazenda e os encantos do pai, Zeca Chapéu Grande, entre velas, incensos e ladainhas, Bibiana percebe desde cedo a injustiça da servidão que há três décadas é imposta à família e decide lutar pelo direito à terra e a emancipação dos trabalhadores. Para isso, porém, é obrigada a partir, separando-se da irmã. Numa trama tecida de segredos antigos que têm quase sempre mulheres por protagonistas, e à sombra de desigualdades que se estendem até hoje no Brasil, Torto Arado é um romance polifónico belo e comovente que conta uma história de vida e morte, combate e redenção, de personagens que atravessaram o tempo sem nunca conseguirem sair do anonimato.


Torto Arado Reviews


  • Pedro Pacifico Book.ster

    Não tenho dúvidas de que 2020 foi o ano do “Torto arado”. Vencedor de dois prêmios literários de extrema relevância (Prêmio Jabuti e Oceanos), o livro de Itamar também conquistou o gosto do público leitor. E com tanta crítica positiva sobre o livro, fica até difícil fazer comentários, seja pelo risco de ser repetitivo, seja pelo medo de fazer algum comentário que possa ir contra a opinião do público.

    Por meio da voz das irmãs Bibiana e Belonísia, o autor constrói de forma sensível e humana a herança de um passado escravagista que perdura no território brasileiro, mais especificamente no sertão baiano. E quando a gente fala em dar “voz” às personagens, Itamar dá voz aos silenciados. Talvez seja esse o significado por trás da marcante cena que inaugura a narrativa e que vai perseguir os moradores de Água Negra: a mutilação de quem desde criança já está condenado à submissão social. É a mutilação pela memória.

    Ao redor de Bibiana e Belonísia, outras vidas são apresentadas ao leitor. Histórias muito bem entrelaçadas por Itamar e que deixam clara a dureza da vida no sertão nordestino. Vive-se com muito pouco, porque não se pode ter mais. Deve-se obedecer para poder seguir vivo e manter viva a família. Se de um lado há poucos que se aproveitam dessa situações, são tantos aqueles que sofrem para sustentá-la. Todo esse cenário é acompanhado não só pelo leitor, mas também por Santa Rita Pescadeira, uma entidade que já há muito tempo compartilha o sofrimento desse povo cheio de fé.

    Uma leitura fluida, mas que merece o seu próprio tempo para capturar tamanha densidade em poucas páginas. É refletir sobre a denúncia de uma sociedade que ainda é profundamente marcada pelo seu passado em que a escravidão era tolerada. Se depois de tanto tempo uma lei veio para proibir, será que a realidade realmente obedeceu a letra que mancha o papel?

    Nota: 10/10

    Leia mais resenhas em
    https://www.instagram.com/book.ster/

  • Bel Rodrigues

    "quando não éramos parentes, nos fazíamos parentes. foi a nossa valência poder se adaptar, poder construir essa irmandade, mesmo sendo alvos da vigilância dos que queriam nos enfraquecer."

    4,7 ⭐

  • Cláudia Azevedo

    Maravilhosamente obrigatório! Há algum tempo que não me emocionava tanto com uma história!
    "Torto Arado" retrata a saga de uma família de descendentes de escravos, de Donana a Salu, Bibiana e Belonísia. As figuras femininas sofrem terrivelmente, mas nunca se vergam. E a esperança sempre renasce.

    "Quando deram a liberdade aos negros, nosso abandono continuou. O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Mas que liberdade?"

  • Alfredo

    Não é de se impressionar que "Torto Arado" tenha recebido o Oceanos, Jabuti e Prêmio Leya. O livro é fenomenal.

    Aqui, temos a história de duas irmãs: Bibiana e Belonísia. Suas vidas são marcadas logo na infância após uma delas cortar acidentalmente a língua com a faca da avó e perder a voz para sempre. Ao longo desse romance de formação, acompanhamos seus pontos de vista (assim como de uma terceira narradora especial...) e seguimos uma trama sobre um povo que, há décadas, trabalha numa terra sobre a qual não tem direito algum. Itamar Vieira Junior faz um trabalho fenomenal ao contar a história dessas pessoas e da sua relação com a terra, com a fé, com família e com a própria comunidade. É uma narrativa que se afasta dos centros urbanos para dar voz a pessoas negras, indígenas e quilombolas que batalham para sobreviver em meio às injustiças de um mundo pensado para beneficiar pessoas brancas.

    "Se algo acontecesse a eles, não teríamos direito à casa, nem mesmo à terra onde plantavam sua roça. Não teríamos direito a nada, sairíamos da fazenda carregando nossos poucos pertences. Se não pudéssemos trabalhar, seríamos convidados a deixar Água Negra, terra onde toda uma geração de filhos de trabalhadores havia nascido. Aquele sistema de exploração já estava claro para mim."

    Li e reli "Torto Arado" em dois dias. Nunca tinha feito isso com nenhum livro. Em parte, foi porque a história é forte, memorável e bem escrita. Mas também fiz isso porque a sinopse do livro (e a classificação na Amazon) me prometeu um realismo mágico. Ao meu ver, não é bem isso que temos aqui, por mais que alguns momentos dele possam flertar com essa ideia. Quando me dei conta, tinha lido o livro inteiro esperando uma coisa e recebi outra completamente diferente. Tão triste que fiquei por perder várias mensagens trazidas nele, decidi reler imediatamente.

    "Ela se sentia apenas uma inquilina, embora morasse ali havia mais de quarenta anos, e apesar de o dono estar ali fazia tão pouco tempo, sentia como se devesse favores por estar na terra alheia."

    Tudo no livro é bem pensado e tem um embasamento histórico em cada detalhe. A começar da religião: o jarê, religão de matriz africana, só existe na Chapada Diamantina, local que o autor visitou antes de escrever o livro. Na Chapada, o autor também tirou a inspiração para alguns personagens e seu jeito de falar. Da história, Itamar pegou momentos como a seca que assolou o sertão, a enchente que também destruiu plantações, a chegada da televisão antes mesmo da energia elétrica... Isso sem contar nas explicações das personagens para o melhor momento para colher, pescar e fazer outras atividades com base na fase da lua. A natureza é um elemento tão forte nessa obra quanto as próprias pessoas.

    "'Deixa ver se a senhora entendeu: esta terra mora em mim', bateu com força em seu peito, 'brotou em mim e enraizou.' 'Aqui', bateu novamente no peito, 'é a morada da terra. Mora aqui em meu peito porque dela se fez minha vida, com meu povo todinho. No meu peito mora Água Negra, não no documento da fazenda da senhora e de seu marido. Vocês podem até me arrancar dela como uma erva ruim, mas nunca irão arrancar a terra de mim.'"

    Para mim, "Torto arado" é, além de uma história sobre o poder de comunidade, uma narrativa brilhante sobre a luta e o direito pela terra. Sinto que cada vez que relê-lo (estou certo de que farei isso muitas vezes) descobrirei algo novo, enxergarei algo que não notei numa primeira leitura. Fico muito feliz com todo o sucesso que o livro está fazendo e animado para os próximos do Itamar.

    Recomendo!

  • Victor

    *3.5

  • Bruno Neute

    4.5*

  • Tiago Germano

    Enfim, um romance

    Romance de estreia do escritor Itamar Vieira Junior, "Torto Arado" é um caso sui generis na literatura brasileira contemporânea. Em meio a obras que, numa visão mais rigorosa dos gêneros literários, são novelas centradas num único personagem e seus conflitos existenciais, seu texto recupera a estrutura clássica - e atemporal - do romance: uma narrativa com vários núcleos e seus respectivos arcos, que se abrem a partir de uma base consistentemente formada por duas protagonistas - as irmãs Bibiana e Belonísia.

    Esta peculiaridade (compartilhada por outro romance recente bastante festejado: "Tempo de Espalhar Pedras", do potiguar Estevão Azevedo) se estende também à sua temática, que se afasta da ambiência metropolitana e recupera o nosso passado agrário - sem deixar de nos oferecer uma visão profundamente atual de problemas, hoje, também urbanos: as tensões entre classes sociais privilegiadas e desfavorecidas, o racismo que permeia esta relação de tensão, bem como sua manifestação na configuração de nossas cidades - com seus muros que separam, como cercas, os grandes condomínios das grandes favelas.

    A identificação de Vieira Jr. com esta literatura (de resto, já expressa em alguns de seus contos - ele é autor de dois volumes de narrativas breves: "Dias" e "A Oração do Carrasco"), revela-se desde a epígrafe, que evoca talvez a grande referência deste nosso século a orbitar neste universo: o paulista Raduan Nassar (não hesitaria ao colocar ao seu lado o amazonense Milton Hatoum).

    Mais jovem que ambos, recentemente consagrado com o Prêmio Leya de Literatura, impressiona - mas não é de se estranhar - a forma como o autor baiano dá um toque ainda mais telúrico ao seu trabalho: indo ao âmago não de uma sociedade influenciada pelas correntes migratórias do final do século 19 e início do século 20, mas de dois povos ainda mais ancestrais na configuração de nossa identidade: os nativos indígenas e os povos de descendência africana, trazendo para o centro da história uma comunidade quilombola liderada por Zeca Chapéu Grande, pai daquelas duas personagens, um líder também espiritual, "cavalo" para os espíritos dos "encantados" que se revelam nas noites de jarê.

    Um destes "encantados", por sinal, é narrador de uma das seções do romance: dividida em três partes "Fio corte", "Torto arado" e "Rio de sangue", a ficção é hábil na alternância de vozes. A que abre é a primeira pessoa de Bibiana, uma das irmãs que, num acidente ao abrir os pertences da avó Donana, perde a língua e a voz; a segunda é narrada por Belonísia, que ficou com uma cicatriz do acidente e também oferece sua versão do que ocorreu e do seu desdobramento na vida da família; e a terceira é narrada pela Santa Rita Pescadeira (uma grande cartada técnica de Itamar, relegando a esta narradora "onisciente" a função de encerrar - de forma brilhante, por sinal - a unidade do romance).

    É linda a metáfora da ausência da fala e da cicatriz, em se tratando de personagens como estas, mulheres, negras, sempre silenciadas e marcadas por preconceitos (dentro e fora da literatura). É incrível como o escritor trabalha as sutilezas desta história: o passado sugestivo de Donana, a relação sutilmente homoafetiva entre Bibiana e Maria Cabocla, a própria rivalidade das irmãs que em certo ponto competem pelo amor do personagem Severo (e sua interessante evolução, introduzindo aos habitantes de Água Negra uma maior consciência social diante do problema da terra).

    Em meio a isso, detalhes históricos que vão sendo inseridos, como as grandes secas que assolaram o Nordeste, a chegada da televisão aos povoados rurais (muito antes da energia elétrica), o surgimento das ligas camponesas e de sindicatos que começam a minar as estruturas de poder dos grandes latifundiários e do sistema de patriarcado. Os monólogos sobre a terra e o direito de se apoderar dela (disputado entre senhores e servos) são culminâncias de poesia que nunca desviam Itamar de sua maneira de narrar construindo, ao modo freiriano, um lirismo do oprimido - que nem é a emulação do seu falar nem a apropriação dele para uma estética mais autoral: é algo mais delicado e fugidio, como a areia que fica ao se colocar todo esse barro na mão e manejá-lo.

    O sopro que Itamar Vieija Junior dá para conferir vida a todos estes elementos foi, sem medo de arriscar pelo reconhecimento que já logrou em Portugal, um dos pontos altos da literatura lusófona da última década. As repercussões que trará para esta que viveremos, que sem dúvida ainda há de render o seu devido reconhecimento, prometem novos saltos: do tamanho da curiosidade que haveremos de nutrir por esta carreira que só está começando.

  • Alice Ribeiro

    No geral, não gostei. Tem partes muito bem escritas, se revisto e editado, cortando um tanto de contação explicativa, sem ação ou discurso literário, cortando as repetições desnecessárias, poderia ser um ótimo livro. Mas não é. Tem o sério problema de querer informar e conscientizar. E isso não é literatura. Tem seus méritos, o tema é ótimo, tem várias partes com muito valor, mas longe de ser tudo que falam dele. A primeira parte do livro é a melhor. Depois tem ainda o problema de os narradores não serem bem construídos: por vezes falam o que não poderiam falar. De todo modo, acho que merece ser lido, principalmentepor por conta da primeira parte.

  • Diogo Godoy

    Suspeito que textos científicos com qualidades literárias são mais interessantes do que textos literários com jargões e raciocínios das ciências humanas. Torto Arado, sem dúvida, tem virtudes. A principal: o ritmo. Porém, muitas das premissas que o compõem - a injustiça social e as relações afetivas e de poder no Brasil rural - têm um tratamento explícito e analítico, como se tratasse de uma tese universitária. Incomoda, por exemplo, perceber que nas transições das vozes narrativas do texto
    - que são três - pouco se altera o vocabulário e a interpretação da realidade onde vivem as protagonistas. Todas falam a mesma língua: a dos especialistas em estudos pós-coloniais sobre memória e territorialidade de povos indígenas e quilombolas.

  • Fátima Linhares

    Essa terra que cresce mato, que cresce a caatinga, o buriti, o dendê, não é nada sem trabalho. Não vale nada. Pode valer até para essa gente que não trabalha. Que não abre uma cova, que não sabe semear e colher. Mas para gente como a gente a terra só tem valor se tem trabalho. Sem ele a terra é nada.

    Adorei este livro! A história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, unidas por um acontecimento trágico que moldou as suas vidas para sempre. A par com a história destas irmãs, vamos conhecendo a história dos seus pais e avós, como chegaram a Água Negra, a terra onde se instalaram sem nunca a ela terem direito. A tentativa de mudar essa situação e os caminhos que cada uma das irmãs seguiu transformaram este livro numa excelente leitura.

    #emsetembrolemosbrasil

  • Haymone Neto

    Este livro tem um significado político muito importante para o terrível momento que vivemos no Brasil de hoje; isso já basta para que mereça a atenção e o aplauso dos leitores, críticos e acadêmicos da área. Como literatura, reconheço também qualidades notáveis. A principal delas, para mim, é a habilidade do autor em nos ambientar no mundo da fazenda Água Negra, um lugar de casas de barro, chão de terra, roças, matas e várzeas; uma vez iniciada a leitura, é como se o leitor habitasse ali e tomasse um lugar nas festas de jarê. Também é preciso aplaudir Itamar Vieira Júnior por organizar o romance de forma ambiciosa, não linear, com idas e vindas no tempo e nas perspectivas da narração, feitos que evidentemente exigem muito de quem escreve e aguçam o apetite de quem lê. Mas não gosto do tom paternalista (não encontro palavra melhor) com que o autor conduz os personagens; às vezes, parece haver um policiamento na abordagem da rivalidade entre as irmãs ou do peso nem sempre maneiro da condução de tradições centenárias; é como se as protagonistas só tivessem bons sentimentos, e, quando têm os maus, eles são rápida e facilmente resolvidos. Em outras palavras, nos personagens, sinto falta de profundidade, ambiguidade, complexidade, incerteza, dúvida. Há também, em especial do meio para o fim, um tom discretamente triunfalista que, para mim, empobrece o conjunto.

  • Amanda Bitarães

    ok vamos lá, nota 3.
    Eu pensei que eu iria amar esse livro, mas na verdade não consegui me conectar!
    Não sei exatamente o porquê. Achei a narrativa um pouco confusa, e a história não me agradou muito. Eu fiquei muito dispersa durante a leitura e não conseguia focar direito…
    Sei que muita gente amou esse livro, mas eu simplesmente não consegui amar.
    No fim, eu até comecei a achar mais interessante, mas eu demorei uma eternidade pra conseguir finalizar esse livro…
    Não rolou pra mim galera, sorry.

  • Ana

    Opinião completa no meu cantinho - a partir do minuto 01:04

    https://www.youtube.com/watch?v=_ZLj5...

    NOTA - 09/10

  • João Carlos


    Itamar Vieira Junior e Manuel Alegre

    O romance ”Torto Arado” valeu 100.000€ - Prémio LeYa 2018.
    Não sei haverá na Europa prémios literários para romances inéditos com o valor de cem mil euros.
    Será que ”Torto Arado” tem esse valor?
    Na declaração do júri presidido pelo escritor e poeta Manuel Alegre, composto por Ana Paula Tavares, Isabel Lucas, José Carlos Seabra, Lourenço do Rosário, Nuno Júdice e Paulo Werneck refere-se: “O Prémio LeYa 2018 é atribuído ao romance “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, pela solidez da construção, o equilíbrio da narrativa e a forma como aborda o universo rural do Brasil, colocando ênfase nas figuras femininas, na sua liberdade e na violência exercida sobre o corpo num contexto dominado pela sociedade patriarcal.
    Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que situações de opressão quer social quer do homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco, que ganha contornos universais. Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor.
    Todos estes motivos justificam a atribuição por unanimidade deste prémio.”
    Apresentaram-se a concurso 348 candidatos, numa selecção final de sete obras literárias.
    Bibiana e Belonísia são duas jovens filhas de trabalhadores rurais numa fazenda do sertão da Bahia, Brasil, num tempo em que a abolição da escravatura era apenas uma realidade presente nos documentos oficiais ou assinalada no calendário.
    Um acontecimento imprevisto, consequência de um atrevimento própria da juventude faz com que as duas jovens se tornem dependentes uma da outra. Com o decorrer dos anos altera-se a perspectiva comum que cada uma delas - Bibiana e Belonísia-, tem da vida quotidiana, sobretudo, como encaram as vicissitudes do trabalho rural na fazenda.
    Itamar Vieira Junior (n. 1979) consegue manter a qualidade da narrativa com uma escrita poética, sem exageros estilísticos ou de linguagem, com destaque para as excepcional caracterização das personagens femininas. A violência exercida sobre as mulheres, num Brasil rural e machista, onde domina uma sociedade patriarcal, é descrita de uma forma consistente, numa excelente análise antropológica. Às histórias individuais e às histórias colectivas, associam-se os segredos e as injustiças, as reivindicações decorrentes de uma opressão secular e senhorial.
    O final é emblemático: ”Sobre a terra há de viver sempre o mais forte.”
    ”Torto Arado” é um romance comovente, muito interessante na forma como expõe e analisa as injustiças sociais e humanas dos trabalhadores rurais no sertão brasileiro.

  • Lucas Mota

    NOTA: 5

    Bibiana e Belonísia ainda eram crianças quando resolveram mexer nas coisas de sua avó. Encontraram uma faca. Um acidente fez com que uma delas cortasse a língua. As duas ficaram ligadas após o ocorrido e cresceram quase com a sensação de que suas vidas era compartilhadas de alguma forma.
    Torto Arado é um livro do micro para o macro. No micro temos a história das duas irmãs que crescem juntas, desenvolvem objetivos pessoais, tem conflitos e tomam decisões a respeito de sua vida. Temos também toda a história de sua família, que através de uma narrativa interligada de forma brilhante nos conta como surgiu aquela família liderada por Zeca Chapéu Grande. Além disso há as demais famílias. Os irmãos de sina, que trabalham todos os dias em troca das migalhas desprezadas pelo patrão. E também a família do patrão, que é como um parasita que se alimenta do suor e sangue daquela comunidade formada na fazenda Água Negra.
    O livro ainda aposta na troca de narradores. Dividido em três partes, duas narradas por cada uma das irmãs e uma terceira narrada por um personagem inusitado.
    A potência dos temas tratados, a destreza da proza e a visceralidade das personagens resultam em livro não menos do que brilhante.
    Torto Arado merece toda a atenção que vem recebendo. Como toda obra-prima é um poderoso lembrete de muitas coisas. Neste caso um lembrete da nossa história arrastada à sombra da injustiça e da potência de nossa literatura.
    O final é uma das coisas mais potentes e significativas que já li na vida.
    Às vezes o hype está certo, minha gente.

  • M João (Livros?gosto)

    Opinião em:





    https://youtu.be/iGO9puo7YmE

  • Morgana

    na verdade essa nota é 3.5. e na verdade, quando eu comecei a ler, achei que seria 4... porque a primeira parte desse livro é simplesmente instigante e maravilhosa e sinto que abre a possibilidade para você criar expectativas para um certo tipo de narrativa que... não é a entregue. mas isso não é um problema do livro, no caso. é apenas um Problema Meu! mas aquele primeiro capítulo... realmente me fez criar expectativas sobre as irmãs e sobre como seria uma ser a voz da outra. esse tipo de coisa... mas como a maior parte de torto arado, tudo é muito explicado/descrito e muito pouco mostrado. outra vez, isso não é um problema. houve só uma incongruência entre o que passei a esperar do livro no primeiro capítulo e o que o livro me entregou.

    eu não acho que seja um livro Chato, um livro Definitivamente Chato, mas é um livro que pode se tornar cansativo de ler. ainda assim, eu li as duas primeiras partes dele num dia e a terceira no dia seguinte. queria saber o que ele iria me entregar. particularmente, eu não gosto muito da terceira parte, sinto que é a mais explicativa da obra toda.

    inclusive, eu vi resenhas negativas aqui falando que uma das coisas que não gostaram é que as personagens não falavam como mulheres quilombolas e sim como professores universitários e achei esse tipo de comentário MUITO engraçado, além de ficar muito curiosa sobre a leitura dessas pessoas de grande sertão.

    outra reclamação que vi foi de as personagens terem todas a mesma voz. concordo com isso, mas também não é um problema pra mim. o crônica da casa assassinada do lúcio cardoso é desse jeito e é maravilhoso.

    e nas críticas positivas, muitas pessoas falam sobre ser um livro importante/necessário/uma pessoa específica falando que o livro a fez abrir os olhos para vidas tão distantes da sua. aí... antes de ler torto arado, eu estava lendo angústia, do graciliano, e tem uma frase que ficou gravada no meu cérebro, "a literatura nos afastou: o que sei deles foi visto nos livros". pensando nisso sem parar, ainda mais após ler torto arado e as críticas positivas focarem - e aqui dizendo de forma totalmente neutra - essencialmente nos temas dos livro, e não na execução do livro. e também, isso obviamente não é problema nenhum.

    enfim. li torto arado como um livro e não Um Livro Necessário, e sinceramente acho que muitas críticas são muito duras por conta do "hype", então é claro que sua escolha é por detonar o livro, mas infelizmente para mim também não foi tão maravilhoso quanto achei que seria após terminar aquele incrível primeiro capítulo.

  • Marta Xambre

    18/09/21

    4,6⭐
    👤 Os quilombolas são descendentes dos escravos, vivendo em comunidades. Apesar de não serem escravos, culturalmente,ainda representam os seus antepassados. Vivem da agricutura de subsistência, sendo uma vida caracterizada pelo trabalho e pela pobreza.
    🇧🇷 Existem atualmente imensas comunidades quilombolas no Brasil, que lutam incansavelmente pelas suas terras, pelos seus direitos.
    Este livro retrata, precisamente, a história, a cultura e a vida de luta, de miséria de uma dessas comunidades.
    📜 Acabei de ler o livro e permitam-me o desabafo: existem vidas muito duras, tristes, mas repletas de amor, interajuda, proteção e resiliência. As mulheres de "Torto arado" são o retrato perfeito dessas vidas. Quem ler este livro vai encontrar uma trama muito bem arquitetada, na qual as mulheres têm um papel de relevo. Essa relevância, contudo, é nos apresentada, por um lado, através do sofrimento e da subjugação das mulheres ao serviço de uma comunidade vincadamente patriarcal, e por outro pela força, esperança e resiliência que as mesmas mostraram ao longo da história.
    Posto isto, faço das minhas palavras, as palavras da declaração do júri aquando da atribuição do prémio Leya ao autor Itamar Vieira Junior:
    "Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que existem situações de opressão quer social quer do homem em relação às mulheres, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco (...) Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor.'
    Sem dúvida uma escrita fluída, que comove e que nos transporta para uma realidade muito diferente da nossa.

  • Alice Almeida

    Repostando por que o goodreads me odeia
    Escrevi para além da história para que todos que forem ler, leiam como li, sem saber nada do quer seria contado.

    Eu acredito que o que somos vai além de uma vida apenas. Não estamos aqui por estarmos e muito menos fomos colocados em branco. Temos passado, temos história, temos imagens arquetípicas que nos guiam e nos tornam. Minha vó um dia me falou que cultivar os antepassados é a única forma de entendermos quem somos, por só podermos ver o adiante entendendo o anterior, ela diz que quando meditamos e nos colocamos em contato com eles entendemos por onde seguir, é um comportamento quase como inato, não precisa ser explicado. Eu aprendi com ela meus antepassados e percebi que ela veio a ser quando cultivou os seus, quando pode se libertar de amarras que aprendiam numa vida que não se encaixava em ser dela.

    Por que eu falo isso? Por que foi essa reflexão que o livro me levou, a rememoração da história da minha vó e em parte do meu avô (que pouco pude conhecer), uma mulher com marcas de sol, do trabalho, do facão e das queimaduras, uma mulher que deixou um homem quando nada tinha e se construiu ao redor de suas seis filhas, todas mulheres. A história de uma mãe com suas seis filhas no interior de Pernambuco, que lutava em não ter sua história apagada, é minha história, o seu chão, o sol que bate na árvore seca ao lado, a rua que todos se conhecem, se abraçam e se cuidam é onde eu sempre quero voltar. Tive poucas histórias por lá, mas eu sei que é lá onde minhas raízes se criaram, é lá onde posso genuinamente a mim mesma rememorar.

    O livro é para todos entenderem suas raízes, cultivarem seus antepassados, que viveram e ainda vivem, que da terra cultivaram o trabalho, a força, a importância dos laços, a luta, e de se ter uma vida vivida e não apagada. Se não são seus diretos, são do país que nasceu, que viveu ou que um dia pisou. São as raízes de um país marcado pelo que foi contado e que de muito não quero adiantar. Foi narrado de forma simples, delicada e bruta, como deve ser contado.

    Por fim, o quão necessária é uma obra como essa, que escancara sem medo a história de um povo escravizado e que não é visto. Suas histórias não são contadas. Que esse livro se torne obrigatório em todas as escolas do Brasil. Ques estudem e percebam suas narrativas. Que lutem para o seu não silenciamento e enxerguem os facões que mutilam a nossa história.

    "A luta era desigual e o preço foi carregar a derrota dos sonhos, muitas vezes".

  • Filipe Botas

    Face à sua elevada cotação foi com alguma expectativa que iniciei a sua leitura, e que leitura!

    O autor, no seu livro de estreia, consegue em não muitas páginas abordar temas variados, profundos, polémicos, alguns dos quais já esquecidos...tudo isto no meio de uma narrativa intensa, que nos transporta para o passado, para o interior do Brasil, onde, apesar de abolida no papel, a escravatura se mantém na prática, dura e crua...

    História, escravatura, migração, revolta e misticismo são os temas principais, numa história que relata a vida de duas irmãs que seguem destinos separados, mas que no fim...

    Aconselho vivamente a leitura!

  • Lénia

    Um dia eu vou perceber o critério do Prémio Leya. Ainda não foi desta...

  • Lucas Mucelini

    Olha, eu nem me atrevo a escrever qualquer coisa.

  • Cristina Delgado

    Houve um "hype" tão grande com este livro no Instagram que, embora ansiasse lê-lo para tirar teimas, também tive receio de lhe pegar e não sentir tudo o que falavam sobre ele.

    O autor foi uma estreia para mim. Brasileiro. Não sei porquê mas tenho a ideia de não me conseguir concentrar na leitura de autores brasileiros pela musicalidade da escrita, pelos termos desconhecidos desta língua irmã. Li há muito Jorge Amado e foi precisamente essa musicalidade que me atraiu embora, sim, alguns termos ficassem pelo caminho sem os perceber. Outros, fui tirando pelo contexto. A mudança de narrador, que alterna entre estas duas irmãs, está perfeita. Serve para manter este mistério e fazer perdurar esta estranha sensação de não saber a quem aconteceu este facto importante que, obviamente, não vou revelar.

    Algo parecido se passou aqui. Alguns termos não me chegaram ao entendimento e, sinceramente, não tive vontade de procurar o seu significado. E porquê? Porque a escrita e a história são tão fantásticas que só queria avançar na leitura.

    É impossível não nos sentirmos presos por todas as personagens cativantes que povoam este pequeno livro, que se lê num ápice, especialmente pelas duas irmãs, Bibiana e Belonísia. O acontecimento tremendo que as marca definitivamente para o resto das suas vidas, tem contornos mais marcantes numa que noutra. Adorei o facto que não estar explícito em quem esse facto mais teve consequências físicas. E são páginas e páginas de uma escrita muito apelativa e de uma estória que não lhe fica atrás...

    Como pano de fundo está um retrato muito intenso de um Brasil pós escravatura, com hábitos enrreigados tanto entre senhores/proprietários como entre trabalhadores ainda escravizados sem direitos nenhuns nas roças existentes. Essas roças continuaram a ser, por muito tempo, mundos fechados onde os donos eram muito mais que donos das terras: eram-no também dos destinos de quem lá trabalhava sendo muito difícil alguém sair desse futuro que lhe pertencia desde a nascença.

    Um forte sentido de comunidade e de família, agrega toda esta população "escravizada" que vai despertando para as injustiças que lhes são cometidas há anos.

    Lido em ebook, este é um dos livros a TER na estante porque é tão bom!

  • Graciosa Reis

    A trama deste belíssimo romance situa-se no sertão baiano. Nele se evocam a discriminação racial, as relações de servidão, a luta pela terra, mas também crenças, feitiços e rituais. Numa narrativa a várias vozes, acompanhamos as vidas de Belonísia e Bibiana, duas irmãs fortemente ligadas devido a um incidente que ocorreu na infância.
    São histórias de sofrimento, de constante luta, de violência às quais o leitor não fica de modo algum indiferente, mas a dureza da vida nas roças, o trabalho de sol a sol sem salário, as condições de habitação, a falta de alimentos, as situações de violência, a luta pela sobrevivência são narradas de forma sensível e subtil, mitigando assim a dureza e a crueldade presentes ao longo do enredo.

    “Fui tomada por uma profunda tristeza ao ver aquelas duas vidas, desamparadas diante do que lhes haviam feito. Vi tanta crueldade ao longo do tempo, e mesmo calejada me comovo ao ver os homens derramando sangue para destruir sonhos. Vi senhores enforcarem seus escravos como castigo. Cortarem suas mãos no garimpo por roubarem um diamante. Acudi uma mulher que incendiou seu próprio corpo por não querer ser mais cativa de seu senhor. ( ….) “ (p. 220)

    Como sabemos, ao longo dos tempos, e sobretudo durante a escravatura, a mulher foi (e ainda é, infelizmente) o elemento fraco, violentado, abusado e maltratado. Contudo neste romance, apesar de focar essas facetas, o autor com muita sensibilidade atribui às mulheres um papel importante, de destaque. A figura feminina é forte e lutadora, conhecedora da terra e esperançosa numa vida melhor para os seus filhos, crente na sabedoria dos mais velhos e na religião do seu povo, o Jaré.

    “(…) Seu nome era coragem. Era da linhagem de Donana, a mulher que pariu no canavial, que ergueu casa e roça com a força do seu corpo. A mulher que sentiu as dores do parto e deitou em silêncio, mordendo os lábios para parir mais um filho. (…) Era filha da gente forte que atravessou um oceano, que foi separada de sua terra, que deixou para trás sonhos e forjou no desterro uma vida nova e iluminada. Gente que atravessou tudo suportando a crueldade que lhes foi imposta.” (p.278)

    Romance perturbador, impactante que com pinceladas de algum realismo mágico nos remete para as grandes obras de Jorge Amado e mesmo de Gabriel Garcia Márquez.

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  • NenaMounstro

    Hay algo en la escritura de Itamar, que no puedes dejar de leer, seguramente en su idioma original tiene que ser mucho más lindo leer que es casi casi una canción. Es la historia de la familia de Doñana y su hijo sus nietos y bisnietos, de los esclavos africanos que llegaron a Brazil y donde esa esclavitud fue heredada para las siguientes generaciones. Y que así era…porque así debe de ser, porque no hay nada afuera de esas tierras para ellos, ni una sola oportunidad de cambiar la vida.

    Agua Negra es lo único que conocen, así como la extrema pobreza, donde la casa en donde viven no les pertenece ni lo que que cosechan tampoco. La familia____ es esclava por generaciones, donde la paga es esa…sobrevivir con un mínimo de libertad. Ahí en Agua Negra también se cree en la brujería, en el trabajo duro, en los malos presagios, pero en los favores que el dueño de la hacienda les permite tener, en las maldiciones pero en que también puede haber una vida más digna. Pero eso solo lo sabrán las nuevas generaciones, las que no aceptarán esas condiciones de vida para ellos y sus nuevos hijos.

    A pesar de que el tema es durísimo y profundo, no hay una pizca de dramatismo, ni sobre exposición, ahí está su belleza, en la simpleza y profunda manera de contarlo, un libro que no pude parar de leer, que me maravilló la historia del cuchillo, del tigre, de esa magia y misticismos y santos y religión y devoción pertambién el despertar de una nueva generación que sabe que merecen más y van a pelear por eso, aunque les cueste la vida.
    Maravillada quedé

  • Maria Yankulova

    било така. Особено интересна ми е културата на Бразилия и когато преди години Колибри започнаха да преиздават Жоржи Амаду бях много щастлива.

    Затова веднага си купих “Торто Арадо” на Итамар Виейра Жуниор. Романът е страхотен, но и много особен. Не всичко почива на здрав разум. В книгата са преплетени много различни обичаи, Бразилска природа, танци, Богове и историята на две сестри - Белонизия и Бибиана. Историята на момичетата започва с един куфар и един нож, който ранява езика на Бибиана и отрязва този на Белонизия. В края се разбира защо баба им пази години наред този нож в куфар под леглото си. Това белязва живота на сестрите, но и създава много особена връзка между двете.

    Историята също разказва и ни запознава с културата съдбата на общоността киломбо. Хора, които на хартия са свободни, но реално живеят и се трудят в условията на робство - без да им се заплаща труда и без право да си построят дом, различен от къща от глина.

    Романът е дебютен за автора и изключително колоритен и завладяващ. Надявам се да имам възможност да чета още от латиноамерикански автори!

    Заглавието и корицата са ключови за сюжета!

  • Isabel

    Edição em epub

    "Meu pai, quando encontrava um problema na roça, se deitava sobre a terra com o ouvido voltado para o seu interior, para decidir o que usar, o que fazer, onde avançar, onde recuar. Como um médico à procura do coração."

  • Rita

    A língua portuguesa, nas suas inúmeras variantes, quando bem escrita é Maravilhosa.

    O Brasil, sendo um país novo, ainda tem muitas contas a acertar com o seu passado, de forma a não repetir os mesmos erros no futuro.

    Quando deram a liberdade aos negros, nosso abandono continuou. O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade.

  • Luane Mota

    4.5 ⭐️ mds q jornada!!!

    "O medo atravessou o tempo e fez parte de nossa história desde sempre. Era o medo de quem foi arrancado do seu chão. Medo de não resistir à travessia por mar e terra. Medo dos castigos, dos trabalhos, do sol escaldante, dos espíritos daquela gente. Medo de andar, medo de desagradar, medo de existir. Medo de que não gostassem de você, do que fazia, que não gostassem do seu cheiro, do seu cabelo, de sua cor. Que não gostassem de seus filhos, das cantigas, da nossa irmandade. Aonde quer que fôssemos, encontrávamos um parente, nunca estávamos sós. Quando não éramos parentes, nos fazíamos parentes. Foi a nossa valência poder se adaptar, poder construir essa irmandade, mesmo sendo alvos da vigilância dos que queriam nos enfraquecer. Por isso espalhavam o medo."

  • Joana

    Para terminar as férias, acabei o “Torto Arado” de Itamar Vieira Júnior, vencedor do Prémio Leya de 2018. Conheci o autor por acaso na Feira do Livro há umas semanas atrás, estava ele sentado sozinho e acabrunhado à espera que a sessão de autógrafos começasse. Fui apresentar-me, “porque também sou antropóloga”. Falámos sobre a disciplina, o estado atual do Brasil e o efeito que o seu presidente tem tido nas ciências sociais. Apesar de apreensivo, mostrou-se positivo face ao carácter transitório dos políticos, apesar do seu magnífico livro terminar com a afirmação de que na terra mandam os mais fortes... E despediu-se com um “espero que seja uma leitura agradável”. E foi, muito.