Crooked Plow by Itamar Vieira Junior


Crooked Plow
Title : Crooked Plow
Author :
Rating :
ISBN : 1839766425
ISBN-10 : 9781839766428
Language : English
Format Type : ebook
Number of Pages : 288
Publication : First published August 1, 2019
Awards : Prémio LeYa (2018), International Booker Prize Shortlist (2024), Prêmio Jabuti Romance Literário (2020)

Heralded as the most important Brazilian novel of the century so far, this bestseller's unique blend of magic and social realism won it three literary awards and global acclaim

'I heard  our grandmother asking what we were doing.'"Say something!" she demanded, threatening to tear out our tongues. Little did she know that one of us was holding her tongue in her hand.'

Deep in Brazil's neglected Bahia hinterland, two sisters find an ancient knife beneath their grandmother's bed and, momentarily mystified by its power, decide to taste its metal. The shuddering violence that follows marks their lives and binds them together forever.

Heralded as a new masterpiece and the most important Brazilian novel of this century, this fascinating and gripping story about the lives of subsistence farmers in the Brazil's poorest region, three generations after the abolition of slavery in that country is at once fantastic and realist, covering themes of family, spirituality, slavery and its aftermath and political struggle.


Crooked Plow Reviews


  • Pedro Pacifico Book.ster

    Não tenho dúvidas de que 2020 foi o ano do “Torto arado”. Vencedor de dois prêmios literários de extrema relevância (Prêmio Jabuti e Oceanos), o livro de Itamar também conquistou o gosto do público leitor. E com tanta crítica positiva sobre o livro, fica até difícil fazer comentários, seja pelo risco de ser repetitivo, seja pelo medo de fazer algum comentário que possa ir contra a opinião do público.

    Por meio da voz das irmãs Bibiana e Belonísia, o autor constrói de forma sensível e humana a herança de um passado escravagista que perdura no território brasileiro, mais especificamente no sertão baiano. E quando a gente fala em dar “voz” às personagens, Itamar dá voz aos silenciados. Talvez seja esse o significado por trás da marcante cena que inaugura a narrativa e que vai perseguir os moradores de Água Negra: a mutilação de quem desde criança já está condenado à submissão social. É a mutilação pela memória.

    Ao redor de Bibiana e Belonísia, outras vidas são apresentadas ao leitor. Histórias muito bem entrelaçadas por Itamar e que deixam clara a dureza da vida no sertão nordestino. Vive-se com muito pouco, porque não se pode ter mais. Deve-se obedecer para poder seguir vivo e manter viva a família. Se de um lado há poucos que se aproveitam dessa situações, são tantos aqueles que sofrem para sustentá-la. Todo esse cenário é acompanhado não só pelo leitor, mas também por Santa Rita Pescadeira, uma entidade que já há muito tempo compartilha o sofrimento desse povo cheio de fé.

    Uma leitura fluida, mas que merece o seu próprio tempo para capturar tamanha densidade em poucas páginas. É refletir sobre a denúncia de uma sociedade que ainda é profundamente marcada pelo seu passado em que a escravidão era tolerada. Se depois de tanto tempo uma lei veio para proibir, será que a realidade realmente obedeceu a letra que mancha o papel?

    Nota: 10/10

    Leia mais resenhas em
    https://www.instagram.com/book.ster/

  • bel rodrigues

    "quando não éramos parentes, nos fazíamos parentes. foi a nossa valência poder se adaptar, poder construir essa irmandade, mesmo sendo alvos da vigilância dos que queriam nos enfraquecer."

    4,7 ⭐

  • Alfredo

    lido pela terceira vez. sempre incrível. o livro fala sobre populações tradicionais e quilombolas; sobre o direito à terra, à existência, à alimentação e a uma vida digna; sobre uma comunidade que chegou ali há tempos, sem esperanças de um futuro que não envolvesse se sujeitar à exploração dos donos da terra; sobre as gerações seguintes, que reinvindicaram os direitos pelo lugar onde habitam e pagaram um alto preço por isso; sobre o amor de duas irmãs, quase inseparáveis na infância, mas que seguiram destinos diferentes; sobre, enfim, o brasil.

  • Adina (way behind on reviews, no notifications)

    It’s a bit too late to write anything coherent about this novel. It was the last book from The Booker international Shortlist that I wanted to try, but I only managed to read it in June, after starting it at least 3 times. I am sorry I was not in the best mood to appreciate this novel, which I think should have won instead of Kairos. To me, this year longlist was quite poor so it left me with a bitter aftertaste.

    Crooked Plow, written by the Brazilian Itamar Vieira Junior has one of the most memorable beginnings. While playing in their grandmother’s house, two girls find an old dagger and accidentally cut their tongues with it. One of them severs her tongue completely and is no longer able to speak while the other manages to recover. This event will influence their future and their relationship. At its root, the novel presents the life of subsistence farmers in Bahia. With the aid of some magical realism it discusses themes such as slavery, violence, gender roles, slavery. spirituality and social struggle.

  • Cláudia Azevedo

    Maravilhosamente obrigatório! Há algum tempo que não me emocionava tanto com uma história!
    "Torto Arado" retrata a saga de uma família de descendentes de escravos, de Donana a Salu, Bibiana e Belonísia. As figuras femininas sofrem terrivelmente, mas nunca se vergam. E a esperança sempre renasce.

    "Quando deram a liberdade aos negros, nosso abandono continuou. O povo vagou de terra em terra pedindo abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Mas que liberdade?"

  • Diogo Godoy

    Suspeito que textos científicos com qualidades literárias são mais interessantes do que textos literários com jargões e raciocínios das ciências humanas. Torto Arado, sem dúvida, tem virtudes. A principal: o ritmo. Porém, muitas das premissas que o compõem - a injustiça social e as relações afetivas e de poder no Brasil rural - têm um tratamento explícito e analítico, como se tratasse de uma tese universitária. Incomoda, por exemplo, perceber que nas transições das vozes narrativas do texto
    - que são três - pouco se altera o vocabulário e a interpretação da realidade onde vivem as protagonistas. Todas falam a mesma língua: a dos especialistas em estudos pós-coloniais sobre memória e territorialidade de povos indígenas e quilombolas.

  • Flo

    Update : Now shortlisted for 2024 International Booker Prize - my only read so far from the list

    4.5 - the winner of 2024 International Booker? Gold for fans of Gabriel Garcia Marquez and Elena Ferrante. Go blind into it. I see too many reviewers talk about themes that don't materialize until the last part of the novel.

  • Meike

    Shortlisted for the International Booker Prize 2024 (and should have won)
    Itamar Vieira Junior is a scholar who has studied the formation of
    quilombola communities, so settlements of escaped slaves and their descendants, in the Brazilian Northeast. He also works for the Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, a government agency dealing with land reform. Why am I telling you this? Because the much acclaimed "Crooked Plow" is a highly political novel about quilombolas living in de facto slavery post-abolition (which in Brazil was instated in 1888): Poverty has forced them to ask land owners in
    Chapada Diamantina / Bahia whether they can live on their land and farm it in order to survive, so they have to work for free and give up parts of their produce, with no way out of bonded labor. This widespread system of tenant farming has served the ruling classes to uphold oppression and exploitation.

    Our main characters are Afro-Brazilian sisters Bibiana (who narrates the first part) and Belonísia (who, you guessed it, narrates the second part). At the beginning of the novel, they rummage through an old suitcase in which their grandmother stores her most prized possessions, and they find a knife in a blood-stained piece of cloth. The children, six and seven years old, want to taste the metal, and while Bibiana only hurts her tongue, Belonísia accidentally cuts it off. The knife, blood, voices and the voiceless are the central metaphors that haunt the whole book, together with religious imagery, as personified by the sisters' father, the Jarê healer of the settlement (Jarê is a version of
    Candomblé, a mixture of traditional African and Catholic beliefs).

    After this initial incident, a whole family epic unfolds, telling the story of the quilombolas and their struggles in many flashbacks, while illustrating how the sisters try to fight back: Bibiana falls in love with her cousin who becomes an activist trying to instigate a push back against the exploitation of his people, while Belonísia marries a violent drunk, but then acts against the misogynistic treatment of women. The last part is told by a spirit (take this,
    Gabriel García Márquez! :-)), Santa Rita the fisherwoman, who adds aspects of the destruction of nature, and you can certainly debate whether the ending is optimistic or not.

    I was glued to this novel that taught me so much and is also a bona fide page turner, making it easy to root for the subsistence farmers fighting for their rights. And I get that the author, who has dedicated his life to these issues, intended to produce a written monument to underprivileged communities, to force people to see this political question not in the abstract, but as the real plight of human beings. Maybe it's also cultural, but the pathos parts of this text is burdened with really takes away from its power, IMHO, as it's somewhat too cheap for the subject matter. And another thing that's definitely cultural: The novel relies heavily on metaphors of blood and soil, and I'm a German, so that's a little hard to stomach (don't come for me: Of course this is not a fascist book, on the contrary, but in my cultural space, this imagery has been so perverted and weaponized, I have no neutral access to it and find it disturbing, which is not the author's problem though).

    Still, I liked the vivid characters, the complex use of (the other) metaphors and the intriguing family narrative. Apparently, the topic is (unfortunately) still timely: Not only are there repeated scandals around labour conditions, the Bank of Brazil is also under investigation for its ties to the slave trade.

    Let's see how far the translation goes in the international prize circuit.

    You can listen to our discussion on the podcast (in German) here:
    https://papierstaupodcast.de/podcast/...

  • Alice Ribeiro

    No geral, não gostei. Tem partes muito bem escritas, se revisto e editado, cortando um tanto de contação explicativa, sem ação ou discurso literário, cortando as repetições desnecessárias, poderia ser um ótimo livro. Mas não é. Tem o sério problema de querer informar e conscientizar. E isso não é literatura. Tem seus méritos, o tema é ótimo, tem várias partes com muito valor, mas longe de ser tudo que falam dele. A primeira parte do livro é a melhor. Depois tem ainda o problema de os narradores não serem bem construídos: por vezes falam o que não poderiam falar. De todo modo, acho que merece ser lido, principalmentepor por conta da primeira parte.

  • Victor

    *3.5

  • Bruno Neute

    4.5*

  • Tiago Germano

    Enfim, um romance

    Romance de estreia do escritor Itamar Vieira Junior, "Torto Arado" é um caso sui generis na literatura brasileira contemporânea. Em meio a obras que, numa visão mais rigorosa dos gêneros literários, são novelas centradas num único personagem e seus conflitos existenciais, seu texto recupera a estrutura clássica - e atemporal - do romance: uma narrativa com vários núcleos e seus respectivos arcos, que se abrem a partir de uma base consistentemente formada por duas protagonistas - as irmãs Bibiana e Belonísia.

    Esta peculiaridade (compartilhada por outro romance recente bastante festejado: "Tempo de Espalhar Pedras", do potiguar Estevão Azevedo) se estende também à sua temática, que se afasta da ambiência metropolitana e recupera o nosso passado agrário - sem deixar de nos oferecer uma visão profundamente atual de problemas, hoje, também urbanos: as tensões entre classes sociais privilegiadas e desfavorecidas, o racismo que permeia esta relação de tensão, bem como sua manifestação na configuração de nossas cidades - com seus muros que separam, como cercas, os grandes condomínios das grandes favelas.

    A identificação de Vieira Jr. com esta literatura (de resto, já expressa em alguns de seus contos - ele é autor de dois volumes de narrativas breves: "Dias" e "A Oração do Carrasco"), revela-se desde a epígrafe, que evoca talvez a grande referência deste nosso século a orbitar neste universo: o paulista Raduan Nassar (não hesitaria ao colocar ao seu lado o amazonense Milton Hatoum).

    Mais jovem que ambos, recentemente consagrado com o Prêmio Leya de Literatura, impressiona - mas não é de se estranhar - a forma como o autor baiano dá um toque ainda mais telúrico ao seu trabalho: indo ao âmago não de uma sociedade influenciada pelas correntes migratórias do final do século 19 e início do século 20, mas de dois povos ainda mais ancestrais na configuração de nossa identidade: os nativos indígenas e os povos de descendência africana, trazendo para o centro da história uma comunidade quilombola liderada por Zeca Chapéu Grande, pai daquelas duas personagens, um líder também espiritual, "cavalo" para os espíritos dos "encantados" que se revelam nas noites de jarê.

    Um destes "encantados", por sinal, é narrador de uma das seções do romance: dividida em três partes "Fio corte", "Torto arado" e "Rio de sangue", a ficção é hábil na alternância de vozes. A que abre é a primeira pessoa de Bibiana, uma das irmãs que, num acidente ao abrir os pertences da avó Donana, perde a língua e a voz; a segunda é narrada por Belonísia, que ficou com uma cicatriz do acidente e também oferece sua versão do que ocorreu e do seu desdobramento na vida da família; e a terceira é narrada pela Santa Rita Pescadeira (uma grande cartada técnica de Itamar, relegando a esta narradora "onisciente" a função de encerrar - de forma brilhante, por sinal - a unidade do romance).

    É linda a metáfora da ausência da fala e da cicatriz, em se tratando de personagens como estas, mulheres, negras, sempre silenciadas e marcadas por preconceitos (dentro e fora da literatura). É incrível como o escritor trabalha as sutilezas desta história: o passado sugestivo de Donana, a relação sutilmente homoafetiva entre Bibiana e Maria Cabocla, a própria rivalidade das irmãs que em certo ponto competem pelo amor do personagem Severo (e sua interessante evolução, introduzindo aos habitantes de Água Negra uma maior consciência social diante do problema da terra).

    Em meio a isso, detalhes históricos que vão sendo inseridos, como as grandes secas que assolaram o Nordeste, a chegada da televisão aos povoados rurais (muito antes da energia elétrica), o surgimento das ligas camponesas e de sindicatos que começam a minar as estruturas de poder dos grandes latifundiários e do sistema de patriarcado. Os monólogos sobre a terra e o direito de se apoderar dela (disputado entre senhores e servos) são culminâncias de poesia que nunca desviam Itamar de sua maneira de narrar construindo, ao modo freiriano, um lirismo do oprimido - que nem é a emulação do seu falar nem a apropriação dele para uma estética mais autoral: é algo mais delicado e fugidio, como a areia que fica ao se colocar todo esse barro na mão e manejá-lo.

    O sopro que Itamar Vieija Junior dá para conferir vida a todos estes elementos foi, sem medo de arriscar pelo reconhecimento que já logrou em Portugal, um dos pontos altos da literatura lusófona da última década. As repercussões que trará para esta que viveremos, que sem dúvida ainda há de render o seu devido reconhecimento, prometem novos saltos: do tamanho da curiosidade que haveremos de nutrir por esta carreira que só está começando.

  • Maxwell

    Bibiana and Belonisía, sisters in rural Brazil in the mid-20th century, are only around seven years old when an incident of violence set them on separate but inextricably linked paths. We follow them, and the fellow tenant farmers of their neighborhood, over the course of their lives and see the lingering effects that slavery and capitalism has on their people. As they find their voices—in whatever way they can—they must learn to confront the terrible history that their family has endured in order to find their footing in a world that is never acknowledged as their own.

    The story starts with a knife that rends the narrative in to three parts and appears throughout. Other persisting imagery is the landscape of the Bahia region of Brazil, the woods and rivers, years of drought and arid landscapes, blood-soaked earth and hands destroyed by toiling, diamonds, jaguars, and more. The writing is both lush but never verbose; and Lorenz's translation is flawless.

    This is a story I'd recommend to fans of Ferrante's
    My Brilliant Friend and
    Freshwater by Akwaeke Emezi. It explores themes of identity, religion, culture and connection to a land and one's community. I loved it!

  • Fátima Linhares

    Essa terra que cresce mato, que cresce a caatinga, o buriti, o dendê, não é nada sem trabalho. Não vale nada. Pode valer até para essa gente que não trabalha. Que não abre uma cova, que não sabe semear e colher. Mas para gente como a gente a terra só tem valor se tem trabalho. Sem ele a terra é nada.

    Adorei este livro! A história de duas irmãs, Bibiana e Belonísia, unidas por um acontecimento trágico que moldou as suas vidas para sempre. A par com a história destas irmãs, vamos conhecendo a história dos seus pais e avós, como chegaram a Água Negra, a terra onde se instalaram sem nunca a ela terem direito. A tentativa de mudar essa situação e os caminhos que cada uma das irmãs seguiu transformaram este livro numa excelente leitura.

    #emsetembrolemosbrasil

  • Велислав Върбанов

    „Торто Арадо“ е чудесно книжно преживяване, което надхвъри всичките ми очаквания! Това е дебютният роман на бразилския писател Итамар Виейра Жуниор, обаче несъмнено си личи неговото майсторство и си заслужава четенето...

    В тази страшно очарователна книга е разказана тъжната и драматична история на чернокожите хора в Бразилия в началото на 20-ти век. Въпреки тежките теми за жестокото ограничаване на човешки права, огромната бедност и други обществени недостатъци, стилът на писане на автора се оказа много красив и неусетно прочетох изпълнената със смислени послания творба. Централно място в сюжета заемат израстването на две сестри сред житейските несгоди в плантацията в „Агуа Негра“ и техните сложни взаимоотношения, но същевременно „Торто Арадо“ представлява впечатляваща и правдоподобна картина на епохата...






    „С годините тези жестове се превърнаха в продължение на начина ни на изказване и дори ни сляха в едно цяло, без да губим същността си.“


    „Най-силното желание в живота на баща ми, към което той се стремеше с особено усърдие, навярно бе децата му да се научат на четмо и писмо. Ако някой познава живота му единствено като борба със земята или отговорността, с която той съхранява вярванията жаре, би си помислил, че те са най-важните достижения в битието му. Но ние, виждайки колко е горд, че децата му се учат да четат и че придават значение на обучението, знаехме, че това е благото, което той най-много искаше да ни остави в наследство.“


    „Научавах, че нищо не е в абсолютен покой - съвсем различно от безжизнените неща, които учителката показваше в часовете си. Баща ми ме поглеждаше и казваше:
    - Вятърът не духа, той е самото въртене - и всичко добиваше смисъл. - Ако въздухът не се движи, няма вятър, ако хората не се движат, няма живот - опитваше се да ме научи татко.“


    „Желанието за свобода нарастваше и засягаше почти всичко, което правехме. През годините то започна да поставя родителите и децата в един и същ дом в опозиция...“


    „Може би са забравили Санта Рита Рибарката, но аз не мога да забравя това, което изстрадах с толкова човешки същества, които бягат от войните за земя, насилието на въоръжените мъже, сушата. Минах през времето, сякаш ходех по водите на буйна река. Борбата беше неравна и цената, коя- то платих, бе да понеса многократното крушение на мечтите.“


    „В същия този ден Бибиана реши да събере хората от Агуа Негра, за да говори пред тях. Въпреки че беше потънала в скръб, тя имаше нужда да изложи мисли- те си. Не можеше да остави нещата да се развиват по този начин, в противен случай не след дълго всички щяха да бъдат в опасност. Макар че чувстваше празнота, нямаше да остави паметта на Северо да бъде осквернена от една лъжа. Скоро тази лъжа щеше да се претвори в много лъжи, които щяха да се превърнат в част от история им, без никой от тях да е способен да се защити. А нейните деца? Как биха преживели осквернения образ на баща си? Нямаше да позволи наследството му да бъде загубено за историята, която властите разказваха така, както си искат.“

  • Maria Yankulova

    Особено интересна ми е културата на Бразилия и когато преди години Колибри започнаха да преиздават Жоржи Амаду бях много щастлива.

    Затова веднага си купих “Торто Арадо” на Итамар Виейра Жуниор. Романът е страхотен, но и много особен. Не всичко почива на здрав разум. В книгата са преплетени много различни обичаи, бразилската природа, танци, богове и историята на две сестри - Белонизия и Бибиана. Историята на момичетата започва с един куфар и един нож, който ранява езика на Бибиана и отрязва този на Белонизия. В края се разбира защо баба им пази години наред този нож в куфар под леглото си. Това белязва живота на сестрите, но и създава много особена връзка между двете.

    Историята също разказва и ни запознава с културата съдбата на общоността киломбо. Хора, които на хартия са свободни, но реално живеят и се трудят в условията на робство - без да им се заплаща труда и без право да си построят дом, различен от къща от глина.

    Романът е дебютен за автора и изключително колоритен и завладяващ. Надявам се да имам възможност да чета още от латиноамерикански автори!

    Заглавието и корицата са ключови за сюжета!

  • Roman Clodia

    On this land, it's the strongest who survive.

    For me, this is another entry from the International Booker shortlist which feels a bit... inconsequential. Not in terms of its premise which is to take the lives of poor tenant farmers in Brazil, the descendants of freed African slaves, who work the land to which they add value but are unable to own anything themselves, but in terms of its treatment. This feels, perhaps deliberately, popularised and therefore comes off as unsophisticated in both writing and thinking.

    Too much of the first two sections are 'family saga' style storylines built on sisters coming of age, first periods, marriage - the style is 'sweeping': that is, large swathes of time and generations pass in a few pages, a style that always frustrates me as it can tend to the superficial. One of the husbands develops a political consciousness and 'started collecting signatures to establish a labour union' - It's like everything is written in capital letters, painted in poster colours, articulated in straplines and brand names as shortcuts, without detail, nuance, complexity or sophistication, and without leaving any work for the reader to do.

    The third section written in the voice of a spirit interested me more and hints at a different way this whole book could have been written - but the final line sums up the conventionality of the message and its cliched nature: 'on this land, it's the strongest who survive'.

    In terms of the International Booker 2024 long list, this bears parallels to the simplified anti-colonialist theme of
    Undiscovered without the more provocative decolonising desire ideas which lift that book; and contrasts with
    Mater 2-10 which commits utterly to a worker activism/labour politics thematic.

  • Paul Fulcher

    My voice was a crooked plow, deformed, penetrating the soil, only to leave it in fertile, ravaged, destroyed.

    Shortlisted for the 2024 International Booker Prize

    Shortlisted for the Oxford-Weidenfeld Prize

    Crooked Plow is Johnny Lorenz's
    translation of Torto Arado by Itamar Vieira Junior - although you will search the cover (
    featuring artwork by Paolo Saliby), back page and both french flaps in vain for any mention of Lorenz's role.

    The novel comes in three sections - I. Edge of the Blade; II. Crooked Plow; and III. River of Blood and is set, I think, in the early part of the second half of the 20th century.

    Edge of the Blade is narrated by Bibiana, who lives with her parents who are tenants on a planation in Bahia, in northern Brazil. The tenant farmers are descended from those who were only freed from slavery a few generations earlier, and still live in poverty, having to pay the landowner to farm their land and not allowed to erect permanent residences.

    The story opens when Bibiana is seven and she and her sister Belonísia, a year younger, have decided to open the suitcase where their grandmother stores her most prized possessions. There they find a knife hidden in a bloodied rag - deciding to taste the metal with their tongues, they manage to both badly cut themselves, one damaging their tongue so badly they end up mute, a memory that later returns to Bibiana when two other sister, identical twins, are bought to be treated by their father, a Jaré healer as well as a farmer:

    To look at Crispina crumpled there at our feet, her eyes the color of fire, her kinky hair matted with dead leaves and flower petals—some of which still held a hint of color and a lingering perfume—her lips whitened with threads of saliva, her flesh exhaling a nauseating odor while her sister Crispiniana stood nearby, was to experience all over again the misfortune that devastated us the day we removed the knife from the suitcase and, eager to know the beauty of that strange, forbidden radiance, placed it in our mouths, feeling liberated, as though this were possible, from all the prohibitions of our parents' and neighbors' religious beliefs, from our own oppression as workers bound to the plantation. It was as if the broken piece of mirror in our grandmother's dusty suitcase had lost another shard, for in the mirror of that blade we discovered a part of ourselves.

    The incident initially drives the sister's closer together, forming a syncretic pair, one of them (Bibiana only reveals which in the closing sentences of her account) acting as the interpreter for the mute other.

    But once love comes into play the sisters find themselves interested in the same man, a cousin (and meanwhile the twins even share a husband) who gets Bibiana pregnant, the two eloping from the plantation, and staying away for a few years, while Belonísia remains behind.

    The section section, Crooked Plow, is Belonísia's account of her life, including while Bibiana is away and then after her return . Belonísia herself gets married, but fights back against her husband's mistreatment of her, and then does so on behalf of other abused women in the community.

    And the story gradually becomes more political. The girl's father is the community leader of the tenant farmers on the plantation, as well as their spiritual leader for the syncretic religion they practice. He represents the community to the local Mayor and the plantation owner, successfully campaigning for a school to be established, but he doesn't challenge the overall justice of the situation in which they live, whereas the younger generation, led by Bibiana's husband, Severo, and her younger brother, take a more militant stance:

    The way the system operated, it was the workers who were indebted to the owners of the land, for having been granted the opportunity to work; except for that debt, they had nothing to bequeath to their children and grandchildren. The only thing they could possibly leave them was the house itself, almost always in a state of ruin. But the old-timers at Água Negra didn’t get upset about such things; their priority, in fact, was to keep the peace between workers and landowners. Perhaps they felt some deep gratitude for having been taken in, gratitude that subsequent generations wouldn’t understand, having been born and raised on the plantation.
    [...]
    My brother wouldn’t let it drop, though he avoided talking about it in front of our father. He’d accompany Severo when, between tasks, his brother-in-law went around the plantation, engaging with his fellow workers. “We can’t keep living like this. We have a right to our own land. We’re the descendants of those original escaped slave communities, the quilombos. We’re quilombolas.” This dream of freedom kept growing inside of us, affecting everything we did. As the years passed, the dream would create conflicts between parents and children.


    The third section of the novel River of Blood is narrated by an encantada, an ancient spirit who inhabits people (she calls them her 'horses' who she 'rides'), particularly during the spiritual ceremonies. Appearing to Bibiana at an earlier ceremony, where the girl had just learned she was pregnant and was contemplating elopement, the spirit tells her from your movement, shall come both your victory and your defeat, which could also stand-in for the political campaigning of Severo which ends in violence.

    I’m an old spirit, an ancient encantada, and I’ve been with these people ever since they came here from Minas Gerais, from the Recôncavo, from Africa. Maybe they’ve forgotten all about Santa Rita the Fisherwoman, but my memory won’t let me forget how I suffered with them when they fled from land disputes and armed conflicts and the ravages of drought. I’ve traversed centuries; it’s like walking over the surface of a rough river. The battles were always unjust. I’ve watched these people endure the annihilation of their dreams.

    Her account fills in more of the history of the area and the family (the reason for the knife hidden in the chest; how the girl's father came to the plantation) and also the aftermath of the political campaigning, the reader being left to choose if the spirit is real, or if the two sister, who the spirit comes to temporarily inhabit, are acting entirely of their own volition.

    The novel is very well executed and I understand it made a significant impact in Brazil, winning literary prizes and liked by critics and readers alike and, I believe, in the context of modern Brazilian literature focused on urban communities, was something of a revalation.

    At the same time, for an English-speaking reader, this rather fits our traditional expectations of translated Latin-American literature - the Brazilian-setting aside this could easily be a lost Gabriel Garica Marquez novel, or (for a Brazilian comparison) one by Jorge Amado.


    Out of Earth, which is on the Republic of Consciousness Prize shortlist and which many had expected to see on the International Booker list, covers similarish ground but in a more literary innovative way, and I would have preferred if it had made the list if only one could have done so (and while it shouldn't work this way in theory, in practice I suspect the judges would have wanted to pick only one rural Brazilian novel).

    Nevertheless this deserves its place and one I hope to see on the shortlist - indeed it would make a worthy winner.

  • Rita da Nova

    “É uma saga familiar, mas também é um romance inerentemente político, e há um equilíbrio muito bem feito entre estas duas componentes. Senti-me mesmo parte desta comunidade, fui capaz de imaginar todos os cenários que o autor descrevia e de sofrer com as personagens. No final, fica a incapacidade de decidir qual das duas irmãs escolheu melhor o caminho de vida — e acho que isto pode ser visto como um elogio.”

    Review completa em:
    https://ritadanova.blogs.sapo.pt/tort....

  • Haymone Neto

    Este livro tem um significado político muito importante para o terrível momento que vivemos no Brasil de hoje; isso já basta para que mereça a atenção e o aplauso dos leitores, críticos e acadêmicos da área. Como literatura, reconheço também qualidades notáveis. A principal delas, para mim, é a habilidade do autor em nos ambientar no mundo da fazenda Água Negra, um lugar de casas de barro, chão de terra, roças, matas e várzeas; uma vez iniciada a leitura, é como se o leitor habitasse ali e tomasse um lugar nas festas de jarê. Também é preciso aplaudir Itamar Vieira Júnior por organizar o romance de forma ambiciosa, não linear, com idas e vindas no tempo e nas perspectivas da narração, feitos que evidentemente exigem muito de quem escreve e aguçam o apetite de quem lê. Mas não gosto do tom paternalista (não encontro palavra melhor) com que o autor conduz os personagens; às vezes, parece haver um policiamento na abordagem da rivalidade entre as irmãs ou do peso nem sempre maneiro da condução de tradições centenárias; é como se as protagonistas só tivessem bons sentimentos, e, quando têm os maus, eles são rápida e facilmente resolvidos. Em outras palavras, nos personagens, sinto falta de profundidade, ambiguidade, complexidade, incerteza, dúvida. Há também, em especial do meio para o fim, um tom discretamente triunfalista que, para mim, empobrece o conjunto.

  • Krista

    My voice was a crooked plow, deformed, penetrating the soil only to leave it infertile, ravaged, destroyed.

    Newly translated into English,
    Crooked Plow — originally released in 2019 as
    Torto Arado — won its author, Itamar Vieira Junior, several international literary awards and brings attention to the history of Brazil’s Quilombola population (descendants of enslaved Africans brought to work on Brazilian plantations until the abolition of slavery in 1888). Covering the lives of three generations of the “Chapéu Grande” family, Vieira tells of the hardship of tenant farming, the persistent effects of racism and colonialism, and the meaninglessness of “freedom” when a people have nowhere to go. This is also a story of perseverance, family love, and the spiritual and community supports that keep a people going against incredible odds. With a blend of social and mystical realism — encantados (spirit beings) interfere in the physical realm and have very real effects — Vieira intriguingly captures a time and place that I knew nothing about. I didn’t totally vibe with the storytelling format — there is very little dialogue, just a series of three different narrators telling us that this happened and then this happened — but I am delighted that Torto Arado has been translated into English and that I had an opportunity to learn from it; I hope that many more readers find their way to this tale. (Note: I read an ARC through NetGalley and passages quoted may not be in their final forms. Slightly spoilerish.)

    My father was holding the tongue, wrapped in one of the few shirts he owned. Even then, what I feared was that the tongue would cry out on its own to tell on us. That it would turn us in for our meddling, our stubbornness, our transgression, our lack of concern and respect for Grandma and her things. And, worse, our irresponsibility in putting a knife in our mouths, knowing very well that knives bleed the beasts we hunt and the animals in the pen, and they kill men.

    As Crooked Plow opens, two sisters — Belonísia (6) and Bibiana (7) — have discovered a beautiful ivory-handled knife under their grandmother’s bed, and entranced by its shining silver blade, first one and then the other girl puts the knife into her mouth, and one of them loses her tongue. Both the knife and Belonísia’s voicelessness are major motifs in the book, and Vieira will take the unfolding of the entire story to explain where the knife came from, and how it will ultimately be put to use. The accident sets the sisters on different paths, but with limited options available (and especially for girls) in their community, it will also bind them together. And in the background, is the unending toil and precarious predicament of their community of tenant farmers.

    Zeca Chapéu Grande was a respected healer, his name renowned throughout the region. But here, within the confines of the plantation, under the rule of the Peixoto family — who barely set foot on those fields except to give orders or pay the manager or remind us that we were forbidden from building brick houses — under their rule and that of Sutério, my father was just another loyal tenant farmer, grateful for the opportunity he’d been given after searching so long for work and a place to settle down.

    As Vieira describes it, Quilombolas may have been officially freed with the abolition of slavery, but with nowhere to go and nowhere else to work and support their families, people would show up at white-owned plantations and consider themselves lucky if the owners allowed them to work the fields for no pay — just permission to build a mud hut (Vieira tells us probably ten times that tenant farmers’ homes could not be built of bricks or have tile roofs; impermanence was enforced), and while they were allowed to plant a small garden (the only food they had to feed their own families), the owners were owed one third of their harvest, and in fact, could help themselves to as much of their fresh produce as they liked. The tenant farmers (although they worked “Sunday to Sunday”) would also fish in the river and harvest forest fruit in their off hours to sell in town for the cash for small supplies. Despite living on and working this land for generations, the Quilombolas understand that they have no right to their property; and when the plantation is sold and the new owner seems to resent their presence, the community needs to decide whether to keep their heads low or find a way to finally stake a claim. (I couldn’t quite figure out the timeline. A character says at one point: We knew that the land had had tenant farmers on it since at least the arrival of Damião, the pioneer of our community, who showed up during the drought of 1932. And by the end, some huts had televisions and satellite dishes, so it’s recentish.)

    As I said, there’s much social realism here — I liked everything I learned about how these people lived, from the traditional healers to the modern activists — and while Vieira wonderfully captured the historical time and place, I appreciated the mystical and spiritual bits that brought this particular community to life:

    In moments of heightened emotion, I lose myself, I overflow, unable to hold myself together. If I could still mount a horse . . . but no one remembers Santa Rita the Fisherwoman. No healer calls to me, no house of Jarê. Slowly the people unlearn what they once understood; so much has changed.

    This encatado, Santa Rita the Fisherwoman, is the third and final narrator of Crooked Plow (after Bibiana and Belonísia take their turns), and like in many tales of oppressed peoples (I’m thinking
    Song of Solomon,
    The Master & Margarita,
    One Hundred Years of Solitude), sometimes it takes a bit of magical realism to create something like justice in this world.

    The blood of history flows like a river. First, it flows through dreams. Then it comes galloping as if on a horse.

    Again: I knew nothing of the plight of the Quilombolas, and Vieira’s novelisation of one such family’s history was compelling and enlightening. Certainly worth the read.

  • Amanda Bitarães

    ok vamos lá, nota 3.
    Eu pensei que eu iria amar esse livro, mas na verdade não consegui me conectar!
    Não sei exatamente o porquê. Achei a narrativa um pouco confusa, e a história não me agradou muito. Eu fiquei muito dispersa durante a leitura e não conseguia focar direito…
    Sei que muita gente amou esse livro, mas eu simplesmente não consegui amar.
    No fim, eu até comecei a achar mais interessante, mas eu demorei uma eternidade pra conseguir finalizar esse livro…
    Não rolou pra mim galera, sorry.

  • Fabian

    The cutting of a tongue is a powerful image. With your tongue, you lose your voice. You can't say what you want and - even worse - what you don't want, you can't tell stories and you can't raise your voice. This is exactly what Itamar Vieira Junior does in his novel: he gives a voice to the unheard and tells their story.

    The novel begins with two little girls sticking a knife in their mouths. One injures herself, the other loses her tongue. They are two sisters growing up on a plantation in north-east Brazil. They belong to one of those disenfranchised families descended from African slaves who are still trapped in an almost medieval feudal system.

    It is a family story told from different perspectives and over several decades. It is primarily about outdated power structures, both large and small, that persist. Just as the workers on the plantations are oppressed by the socially established system, Belonisia, one of the sisters, is humiliated and abused by her husband. Yet amidst the violence and ongoing injustice, there is a system of far-reaching solidarity between the oppressed. This bond is fuelled by a shared belief in spirits and the healing powers of nature. 

    It is only logical that the spirits finally have their say, that past and present overlap and that in the end the atavistic struggle for survival gives hope. The river of blood is still flowing, but it also speaks. And words are the only antidote to forgetting.

  • Ana

    Opinião completa no meu cantinho - a partir do minuto 01:04

    https://www.youtube.com/watch?v=_ZLj5...

    NOTA - 09/10

  • Emily M

    This book is fine. I think I hoped for something more: more literary, or more political, or more magical, or stranger, I would have been fine with any. Instead it felt a little first-novel to me, though I'm not sure if it is.

    The opening scene, in which two sisters cut their tongues playing with their grandmother's knife in rural Brazil, promised all of the above, and there are some lovely descriptions of Brazilian flora and fauna and folk traditions. But ultimately it's a book that tries to straddle the literary and the popular storytelling techniques, and ends up with neither credentials.

  • Morgana

    na verdade essa nota é 3.5. e na verdade, quando eu comecei a ler, achei que seria 4... porque a primeira parte desse livro é simplesmente instigante e maravilhosa e sinto que abre a possibilidade para você criar expectativas para um certo tipo de narrativa que... não é a entregue. mas isso não é um problema do livro, no caso. é apenas um Problema Meu! mas aquele primeiro capítulo... realmente me fez criar expectativas sobre as irmãs e sobre como seria uma ser a voz da outra. esse tipo de coisa... mas como a maior parte de torto arado, tudo é muito explicado/descrito e muito pouco mostrado. outra vez, isso não é um problema. houve só uma incongruência entre o que passei a esperar do livro no primeiro capítulo e o que o livro me entregou.

    eu não acho que seja um livro Chato, um livro Definitivamente Chato, mas é um livro que pode se tornar cansativo de ler. ainda assim, eu li as duas primeiras partes dele num dia e a terceira no dia seguinte. queria saber o que ele iria me entregar. particularmente, eu não gosto muito da terceira parte, sinto que é a mais explicativa da obra toda.

    inclusive, eu vi resenhas negativas aqui falando que uma das coisas que não gostaram é que as personagens não falavam como mulheres quilombolas e sim como professores universitários e achei esse tipo de comentário MUITO engraçado, além de ficar muito curiosa sobre a leitura dessas pessoas de grande sertão.

    outra reclamação que vi foi de as personagens terem todas a mesma voz. concordo com isso, mas também não é um problema pra mim. o crônica da casa assassinada do lúcio cardoso é desse jeito e é maravilhoso.

    e nas críticas positivas, muitas pessoas falam sobre ser um livro importante/necessário/uma pessoa específica falando que o livro a fez abrir os olhos para vidas tão distantes da sua. aí... antes de ler torto arado, eu estava lendo angústia, do graciliano, e tem uma frase que ficou gravada no meu cérebro, "a literatura nos afastou: o que sei deles foi visto nos livros". pensando nisso sem parar, ainda mais após ler torto arado e as críticas positivas focarem - e aqui dizendo de forma totalmente neutra - essencialmente nos temas dos livro, e não na execução do livro. e também, isso obviamente não é problema nenhum.

    enfim. li torto arado como um livro e não Um Livro Necessário, e sinceramente acho que muitas críticas são muito duras por conta do "hype", então é claro que sua escolha é por detonar o livro, mas infelizmente para mim também não foi tão maravilhoso quanto achei que seria após terminar aquele incrível primeiro capítulo.

  • Marta Xambre

    18/09/21

    4,6⭐
    👤 Os quilombolas são descendentes dos escravos, vivendo em comunidades. Apesar de não serem escravos, culturalmente,ainda representam os seus antepassados. Vivem da agricutura de subsistência, sendo uma vida caracterizada pelo trabalho e pela pobreza.
    🇧🇷 Existem atualmente imensas comunidades quilombolas no Brasil, que lutam incansavelmente pelas suas terras, pelos seus direitos.
    Este livro retrata, precisamente, a história, a cultura e a vida de luta, de miséria de uma dessas comunidades.
    📜 Acabei de ler o livro e permitam-me o desabafo: existem vidas muito duras, tristes, mas repletas de amor, interajuda, proteção e resiliência. As mulheres de "Torto arado" são o retrato perfeito dessas vidas. Quem ler este livro vai encontrar uma trama muito bem arquitetada, na qual as mulheres têm um papel de relevo. Essa relevância, contudo, é nos apresentada, por um lado, através do sofrimento e da subjugação das mulheres ao serviço de uma comunidade vincadamente patriarcal, e por outro pela força, esperança e resiliência que as mesmas mostraram ao longo da história.
    Posto isto, faço das minhas palavras, as palavras da declaração do júri aquando da atribuição do prémio Leya ao autor Itamar Vieira Junior:
    "Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que existem situações de opressão quer social quer do homem em relação às mulheres, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco (...) Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor.'
    Sem dúvida uma escrita fluída, que comove e que nos transporta para uma realidade muito diferente da nossa.

  • João Carlos


    Itamar Vieira Junior e Manuel Alegre

    O romance ”Torto Arado” valeu 100.000€ - Prémio LeYa 2018.
    Não sei haverá na Europa prémios literários para romances inéditos com o valor de cem mil euros.
    Será que ”Torto Arado” tem esse valor?
    Na declaração do júri presidido pelo escritor e poeta Manuel Alegre, composto por Ana Paula Tavares, Isabel Lucas, José Carlos Seabra, Lourenço do Rosário, Nuno Júdice e Paulo Werneck refere-se: “O Prémio LeYa 2018 é atribuído ao romance “Torto Arado”, de Itamar Vieira Junior, pela solidez da construção, o equilíbrio da narrativa e a forma como aborda o universo rural do Brasil, colocando ênfase nas figuras femininas, na sua liberdade e na violência exercida sobre o corpo num contexto dominado pela sociedade patriarcal.
    Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que situações de opressão quer social quer do homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco, que ganha contornos universais. Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor.
    Todos estes motivos justificam a atribuição por unanimidade deste prémio.”
    Apresentaram-se a concurso 348 candidatos, numa selecção final de sete obras literárias.
    Bibiana e Belonísia são duas jovens filhas de trabalhadores rurais numa fazenda do sertão da Bahia, Brasil, num tempo em que a abolição da escravatura era apenas uma realidade presente nos documentos oficiais ou assinalada no calendário.
    Um acontecimento imprevisto, consequência de um atrevimento própria da juventude faz com que as duas jovens se tornem dependentes uma da outra. Com o decorrer dos anos altera-se a perspectiva comum que cada uma delas - Bibiana e Belonísia-, tem da vida quotidiana, sobretudo, como encaram as vicissitudes do trabalho rural na fazenda.
    Itamar Vieira Junior (n. 1979) consegue manter a qualidade da narrativa com uma escrita poética, sem exageros estilísticos ou de linguagem, com destaque para as excepcional caracterização das personagens femininas. A violência exercida sobre as mulheres, num Brasil rural e machista, onde domina uma sociedade patriarcal, é descrita de uma forma consistente, numa excelente análise antropológica. Às histórias individuais e às histórias colectivas, associam-se os segredos e as injustiças, as reivindicações decorrentes de uma opressão secular e senhorial.
    O final é emblemático: ”Sobre a terra há de viver sempre o mais forte.”
    ”Torto Arado” é um romance comovente, muito interessante na forma como expõe e analisa as injustiças sociais e humanas dos trabalhadores rurais no sertão brasileiro.

  • Alice Almeida

    Repostando por que o goodreads me odeia
    Escrevi para além da história para que todos que forem ler, leiam como li, sem saber nada do quer seria contado.

    Eu acredito que o que somos vai além de uma vida apenas. Não estamos aqui por estarmos e muito menos fomos colocados em branco. Temos passado, temos história, temos imagens arquetípicas que nos guiam e nos tornam. Minha vó um dia me falou que cultivar os antepassados é a única forma de entendermos quem somos, por só podermos ver o adiante entendendo o anterior, ela diz que quando meditamos e nos colocamos em contato com eles entendemos por onde seguir, é um comportamento quase como inato, não precisa ser explicado. Eu aprendi com ela meus antepassados e percebi que ela veio a ser quando cultivou os seus, quando pode se libertar de amarras que aprendiam numa vida que não se encaixava em ser dela.

    Por que eu falo isso? Por que foi essa reflexão que o livro me levou, a rememoração da história da minha vó e em parte do meu avô (que pouco pude conhecer), uma mulher com marcas de sol, do trabalho, do facão e das queimaduras, uma mulher que deixou um homem quando nada tinha e se construiu ao redor de suas seis filhas, todas mulheres. A história de uma mãe com suas seis filhas no interior de Pernambuco, que lutava em não ter sua história apagada, é minha história, o seu chão, o sol que bate na árvore seca ao lado, a rua que todos se conhecem, se abraçam e se cuidam é onde eu sempre quero voltar. Tive poucas histórias por lá, mas eu sei que é lá onde minhas raízes se criaram, é lá onde posso genuinamente a mim mesma rememorar.

    O livro é para todos entenderem suas raízes, cultivarem seus antepassados, que viveram e ainda vivem, que da terra cultivaram o trabalho, a força, a importância dos laços, a luta, e de se ter uma vida vivida e não apagada. Se não são seus diretos, são do país que nasceu, que viveu ou que um dia pisou. São as raízes de um país marcado pelo que foi contado e que de muito não quero adiantar. Foi narrado de forma simples, delicada e bruta, como deve ser contado.

    Por fim, o quão necessária é uma obra como essa, que escancara sem medo a história de um povo escravizado e que não é visto. Suas histórias não são contadas. Que esse livro se torne obrigatório em todas as escolas do Brasil. Ques estudem e percebam suas narrativas. Que lutem para o seu não silenciamento e enxerguem os facões que mutilam a nossa história.

    "A luta era desigual e o preço foi carregar a derrota dos sonhos, muitas vezes".

  • Rachel Louise Atkin

    What an outstanding novel and my first five star read of the International Booker 2024. This is about two sisters and when they’re young they find a knife that their grandmother has hidden beneath the bed. When something drastic happens with the knife it changes the life of the two sisters forever.

    It’s strange to have a book like this written by a man, but it really celebrates the matriarchy and female strength. The way the women in this come together to support and look after each other, and especially in the last section where it discusses the intersection between feminism and colonialism, and the taking of women’s work for someone else to benefit from, was unbelievably powerful. There were moments when I had to put the book down and just think about how amazing it was.

    This is set in one of the most impoverished neighbourhoods of Brazil and it explores both the dark side and good side of community. It is laced with violence and the horrors of misogyny but is ultimately a critique of toxic masculinity and its growing prevalence. I loved this book and think it was wonderfully written and crafted, with brilliant characters and an addictive prose. This is my favourite to win so far!