Salvar o fogo by Itamar Vieira Junior


Salvar o fogo
Title : Salvar o fogo
Author :
Rating :
ISBN : 6556924172
ISBN-10 : 9786556924175
Language : Portuguese
Format Type : Hardcover
Number of Pages : 320
Publication : First published April 24, 2023

A história contada em Salvar o fogo tem várias camadas e muitos significados. Sua força reside na forma habilidosa que Itamar Vieira Junior mescla a trajetória íntima de seus personagens com traços da vida – social, emocional e cultural – brasileira. Moisés vive com o pai, Mundinho, e sua irmã, Luzia, em um povoado rural conhecido como Tapera do Paraguaçu, às margens do rio de mesmo nome, no interior da Bahia. Os outros irmãos estão espalhados pelo mundo. Tapera é uma comunidade de agricultores, pescadores e ceramistas de origens afro-indígena que vive à sombra do poder da igreja católica (dona de um mosteiro construído no século XVII e detentora do domínio das terras) e dos humores de seus membros religiosos, também suscetíveis à cobiça e às paixões. Órfão de mãe, Moisés encontra afeto – não livre de algumas escaramuças – com Luzia, uma jovem mulher estigmatizada entre a população por seus supostos poderes sobrenaturais. Para ganhar a vida, Luzia se torna uma diligente lavadeira do mosteiro e passa a levar uma vida de profundo sentido religioso, o que a faz educar Moisés com rigidez. Sua proximidade com a igreja também garante ao menino a formação que os irmãos mais velhos não tiveram. A vida escolar junto aos padres, porém, irá colocar Moisés em contato com experiências que marcarão sua vida para sempre e cujos reflexos podem mesmo estremecer sua relação com a irmã. Luzia, por sua vez, carrega a recordação dos irmãos que partiram, um a um, em busca de uma vida melhor por não encontrarem na aldeia perspectiva de terra, trabalho e dignidade. Sozinha, teve que cuidar da casa e do irmão, amparar o pai, além de lidar com a violência de uma comunidade que parece esquecer das próprias raízes. Ela ainda alimenta a esperança de reunir a família novamente, especialmente a irmã mais nova, que deixou a casa ainda na adolescência sem nunca ter retornado. Anos depois um grave acontecimento pode ser a oportunidade para que a família se reúna, e este reencontro promete deixar de lado décadas de segredos, sofrimentos e silêncios. A história se refaz pouco a pouco, à medida que a desconhecida história da aldeia se revela – descortinando junto com essa história familiar e particular um quadro mais amplo sobre o Brasil e seu povo. Épico e lírico, com o poder de emocionar, encantar e indignar o leitor a cada nova página, Salvar o fogo nos mostra que os fantasmas do passado de uma família muitas vezes não se distinguem dos fantasmas do país. Uma trama atravessada pelos traumas do colonialismo que permanecem vivos, como uma ferida ainda aberta.


Salvar o fogo Reviews


  • Luciana

    Difícil não traçar um paralelo da presente obra com
    Torto Arado, visto todo sucesso ao qual despontou quando publicado, no entanto, se a primeira obra é muito boa, essa parece estar no mesmo patamar ou, se possível, melhor.

    Utilizando de muitas temáticas que há em Torto Arado, o escritor traz para a nova trama o mesmo desejo de alçar a terra como a grande protagonista do romance, sendo ela a mesma que colhe os corpos advindos das lutas pela sobrevivência, como também é a que sustenta toda uma geração; meio a conflitos, grilagem, machismo, violência doméstica, violência sexual, religiosa, racial e tantos mais horrores que estão próximos quando a pobreza e a desigualdade estão longe de serem combatidas.

    Focando sobretudo na religião, o escritor narra a vida de Luzia do Paraguaçu e daqueles que a cercam, seja as irmãs, os pais, ou os moradores da tapera onde residem, excluídos e esquecidos a sua própria lei; alvo de violência desde pequena, a protagonista escancara a maldade e o oportunismo daqueles que utilizam da fé para praticar e mascarar suas vilezas, tirando muito de quem pouco tem em nome de um dogma que não exercem, tornando sua infância, juventude e meia-idade o passaporte para os acontecimentos que rondam a família e que compõem mais uma triste, real e excelente história que Itamar volta a nos contar de um Brasil interiorizado.

    Ao final, Torto Arado e Salvar o Fogo fazem parte de uma trilogia, de modo que é inevitável os eventos não se assemelharem, havendo, aqui, um presente a quem tanto gostou do primeiro romance, que só se descobre na leitura de 2/3 do livro. Eu gostei imensamente, espero que todos que o lerem também se sintam como me senti (tristes).

  • diario_de_um_leitor_pjv

    O manto protector da vida, da história, da memória, da saudade da família. É esse manto protector que Luzia faz seu mantra no caminho da vida.

    Comentário aqui


    https://www.instagram.com/p/Cw5it7is8...

  • Monica Cabral

    Em Tapera do Paraguaçu, interior da Bahia, conhecemos Mundinho, pai de 7 filhos , trabalhador rural que luta de sol a sol para trazer alguma comida para a mesa mas também luta contra a injustiça de ter que pagar à Igreja um imposto, o chamado foro, pelo uso das terras. Mundinho vê cada um dos seus filhos partirem de Tapera em busca de uma vida melhor e dispersam-se por várias zonas do imenso Brasil.
    Após a morte da mãe, Moisés  o mais novo dos irmãos fica aos cuidados de sua irmã Luzia, uma jovem exigente,  nada terna com o pequeno irmão e que devido à sua insistência de ele ter que estudar na escola dos padres e depois de viver situações horríveis lá,  foge de casa sem olhar para trás. Umas décadas mais tarde devido a uma tragédia a reunião dos irmãos é inevitável e vai abrir feridas antigas, revelar segredos guardados há demasiado tempo e o mais importante, mostrar uma Luzia completamente transformada, mais combativa, independente e sem medo do que pensam dela. Ao longo desta narrativa Itamar Vieira Junior expõem vários temas importantes: a disputa pela posse de terra, a violência sexual,  o poder da Igreja Católica sobre o povo, o racismo,  a miséria e a desestruturação de uma família cheia de segredos e falta de afecto.
    Mais uma vez o autor apresenta-nos uma mulher forte que mesmo tendo sofrido imenso durante a sua infância e adolescência,  busca em si mesma coragem para lutar contra o preconceito e a maldade de uma comunidade. Comunidade guiada pela Igreja a vê-la como diferente e maléfica. Mesmo tendo cometido muitos erros, Luzia foi a única vítima da sua ignorância e passividade no passado.

  • Gabrielle Cunha

    Muitos personagens marcantes - pro amor e pro ódio -, temas como territorialidade/disputa entre posse e terra, exploração, miséria, abusos, dentre outros, também estão presentes no livro.

    Há similaridades entre a principal obra do Itamar (inclusive menção e aprofundamento de personagens de Torto Arado), mas não vejo isso como algo negativo. Diria que são leituras complementares, como o próprio autor afirmou.

    É um livro envolvente é difícil digestão, mas muito bem escrito e magnético. Gostei bastante!

  • Maíra Romero

    Salvar o Fogo é polifônico do jeitinho que eu gosto, mas seria mais interessante se o autor não tivesse invadido, em certo momento, o universo das personagens e quase que militasse em favor delas. Poxa, já estamos acompanhando com olhares aguçados toda a trajetória de pensamento que elas vão desenvolvendo. Muitas vezes, parece incoerente o tanto que elas são autoconscientes e articuladas sobre todos os acontecimentos do livro.
    Mérito que todas as personagens são encantadoras e a história que perpassa a magia, o misticismo e briga com a realidade dura é lindamente construída.
    Quero ler os outros dele.

  • Neto Menezes

    Favorito!

  • Fulvyo Michel Holanda

    Inesquecível, com certeza vai estar entre os meus favoritos de 2023.

  • Solange Cunha


    Parece-me que Itamar encontrou uma fórmula para os seus livros, seguindo o mesmo formato de capítulos, mesmos temas (racismo, terra, ancestralidade, religiões, cidade x campo) de Torto Arado, mas agora com mais repetições, frases piegas, perguntas retóricas entre travessões cansativas. Em alguns momentos, há a sensação de que se está lendo Torto Arado.

    Salvar o fogo podia ter umas 100 páginas a menos, e poderia focar em alguns temas, me pareceu um embaralho de assuntos, sem se conseguir amarrar todos os nós das diversas histórias que se propõe.

  • Paulo Rodrigues

    Salvar o fogo de Itamar Vieira Junior

    O centro da história é ocupado por Luzia do Paraguaçu, "uma mulher que procura na coragem o caminho para ultrapassar as maiores injustiças" filha de Mundinho com mais 6 irmãos que vivem à beira do rio em Paraguaçu, numa vila rural onde a pobreza se sente em cada recanto, dominada pelos católicos de um mosteiro no qual se cometem crimes hediondos .
    O autor constrói assim uma narrativa em que por vezes nos sentimos intimos das personagens e nos envolvemos nas trajetórias que cada um segue ao longo da vida .
    A brutalidade imposta pela religião a violência nas relações em torno da posse da terra e o racismo, que se enterra como uma faca no coração das personagens, tudo isso é retratado aqui de forma simples mas com audácia, inteligência e humanidade.
    Para quem leu Torto Arado do mesmo autor , vai encontrar aqui grandes semelhanças em alguns temas , como as diferenças entre o rico e o pobre, o estrangulamento que a ditadura provoca a um povo que vive do que a terra lhes dá ,
    o Brasil rural profundo ....
    Itamar mantém a bitola da qualidade a que nos habituou .
    Leiam vale muito a pena

  • Felipe Beirigo

    Loooooko. Porém, um loooko mais sóbrio. Acho que no final a peteca cai, mas ainda sim é uma boa história e muito bem contada.

  • Mateus Odilon

    Dos livros que jogam na nossa cara a parte mais triste do que forma o nosso país e a sua história, mas não sem ser um signo se resistência a isso.

    A história se constrói entre idas e vindas, literais ou não, entre dúvidas e reelaboração. Os pontos da não linearidade são costurados pouco a pouco no final, mas sem me dar todas as respostas que eu, desnecessariamente, queria ter.

    A ligação com Torto Arado vem de forma clara na estrutura e na temática da narrativa, mas de forma muito sutil no enredo. Fico ansioso pelo próximo livro, o fechamento da trilogia, e por saber se ele vai unir ainda mais as duas histórias.

  • Tânia Dias

    Surpreendentemente, é, para mim, ainda melhor que Torto Arado. Este é o maior elogio que posso escrever depois do seu estrondoso sucesso em Portugal. É a confirmação da grandeza de Itamar Vieira Junior.

    "Na teia do esquecimento, a memória se faz de doses iguais de verdade e de imaginação."

    "Os anos que passam são capazes de nos dar conhecimento sobre o mundo. Não esgotamos os mistérios, mas desvendamos uma parte expressiva deles." ❤️

  • Bru Fritsche

    Acredito que seja difícil ler esse livro sem me recordar da narrativa de Torto Arado, e é por esse ponto que vou começar a minha resenha, e especialmente rebatendo a crítica de que Salvar o Fogo seria muito parecido com T.A. e, por isso, não teria tanta originalidade.

    Acho uma falácia essa de querermos acreditar apenas em uma história sobre o povo negro e escravização, como se a construção de dois livros a partir de substratos semelhantes fosse o suficiente para que se tornassem quase iguais.

    Salvar o Fogo possui toda uma construção pessoal e de personagens distinta daquela de Torto Arado. Possui algumas características marcantes, como o realismo mágico, a força das personagens femininas e a dificuldade da vida na terra. Contudo, possui certos toques que lhe conferem uma personalidade ainda maior, como a vida diante da igreja, as maldições direcionadas a Luzia, o jovem que logo cedo deixa o campo em direção à vida na cidade... temas esses que não possuem tanta ênfase em Torto Arado.

    Algo que me marcou também bastante foi a excessiva tristeza que impera nessa narrativa. Apenas me recordo de algumas cenas felizes e agradáveis durante toda a narrativa - o que não entendo como de todo negativo. Acredito que seja esse o impacto necessário para que possamos repensar e ressignificar o passado do nosso país, especialmente no que diz respeito às lutas sobre a posse da terra e sobre a sobrevivência do povo negro. Aliás, para mim, faz todo o sentido a construção de diversas histórias no mesmo contexto e circunstâncias de Torto Arado e Salvar o Fogo - afinal, foram diversas as famílias, constituídas de indivíduos, que vivenciaram tal realidade, e precisamos abandonar essa concepção comum de que a vida dessas pessoas - pretos, descendentes de escravizados - é, e foi, a mesma. São indivíduos com sua profunda magnitude, com tridimensionalidade, com histórias, emoções e experiências únicas.

    Algo que me marcou bastante ao longo da leitura foi a simbologia sobre a família, sobre como ela se constrói e como o afeto é demonstrado, mesmo que de forma modificada pela dureza do estilo de vida das personagens. O autor busca demonstrar onde o amor pode florescer, ainda que sem a materialização expressa por meio de palavras, e reflete sobre o que realmente significa possuir uma família. Acredito que os laços de irmandade e maternidade se confundem, em um emaranhado de ancestralidade que, na verdade, é a tese mais importante e que persiste entre os que ficam e os que vão embora.

    Salvar o Fogo me deixou com o peito pesado em diversas situações, e eu gostaria muito de poder abraçar aos personagens e acreditar com eles em um futuro mais promissor. Acredito que, talvez, isso me ajude a pensar nos que estão de carne e osso clamando por ajuda.

    Por fim, confesso que esperava uma temática diferente em alguns aspectos e que tinha uma expectativa maior e diferente do livro. A leitura foi excepcional, mas não exatamente da forma como eu esperava, por isso deixo 4 estrelas ao invés de 5.

  • Felipe Jamel

    3.5

    Itamar segue sendo gigante! Acho que todos os ingredientes estão ali, mas falta aquela magia que Torto Arado tem.

  • Umberto Cunha Neto

    Um bom trabalho de Vieira Jr.: a construção de personagens. Gosto como ele é capaz de construir personagens que nos cativam e, em Salvar o Fogo, ele faz isso com mais habilidade que no romance anterior. Logo de cara, somos seduzidos pel'O menino e tendemos a ter nossas ressalvas com Luzia - afetos, positivos ou negativos, nos tocam.

    Acho que o enredo é também interessante, mas da mesma maneira que no romance anterior, eu sinto que em algum momento coisas em excesso entram na história. Entende-se de forma clara a relação entre os personagens e a ancestralidade indígena local; então porque insistir tanto na reiteração disso a partir das visões de uma das personagens? E a mistura indígena-negra? achei mal resolvida.

    Assim também o poderio sombrio e castrador da igreja católica, com sua onipresença na comunidade retratada, mas será que, no recôncavo baiano, a força do catolicismo é tão maior que faz com que a mesma terra que celebra o Senhor do Bonfim com uma lavagem da escadaria com águas de Oxalá seja tão forte a ponto de ensinamentos caros e ancestrais serem forçadamente apagados? Isso não é mais a agenda neopentecostal? Questões.

    Há conexões entre esse romance e o anterior. Interessante ideia. Mas, de novo, parece que há uma forçada de barra para encaixar uma coisa na outra. Até porque a ligação entre os dois romances se dá através de um artifício narrativo repetido que, mais uma vez, prejudica a unidade do romance, fazendo dele algo irregular. Sem spoilers.

    Por fim, o principal ponto: a narrativa tem seu tom político-social, ótimo, que beleza o autor se debruçar sobre assuntos tão caros ao nosso Brasil. Mas falta marcação temporal e espacial. A pequena referência espacial está na menção à baía - e à direção dos rios - e na comparação com Água Negra, cenário de Torto arado. Insuficientes para demarcar a relevância da região para as questões abordadas, inclusive do ponto de vista histórico, o que toca a falta de referenciação temporal. Essa história se passaria em qualquer tempo? Inevitável não pensar na obra prima Memorial do convento e todas as suas referências históricas, espaciais e temporais.

    Afirmo, contudo: gostei bastante do livro. Acho que estamos diante de uma voz potente na literatura contemporânea e eu sou apenas um leitor, a consagração de Vieira Jr. já existe, com sua legião de fãs. Gostei mais deste romance do que do outro e gosto muito da história contada. Devorei o livro. E, por fim, penso na pressão sobre um escritor que virou uma quase unanimidade. E acho bom ele cuidar dessa pressão, porque ele andou não sendo muito legal por aí. Mas a literatura brasileira segue viva.

  • Fellipe Fernandes

    Itamar é um autor de escrita elegante, com imagens fortes e bonitas, marcadas por uma linguagem sem muitos floreios, mas sabendo rebuscá-la nos momentos certos. Todo mundo leu “Torto Arado”, então penso ser ponto pacífico entre nós todos essa análise. Neste livro recém-lançado, o autor nos apresenta uma história pulsante, de interesse público e cultural por estar relacionada à formação étnica (e ética também) e um dos muitos pilares de nossa identidade enquanto povo. No entanto, diferentemente do seu sucesso anterior, neste, a narrativa padece de algumas pontas soltas que, ao meu ver, acabam sufocando um pouco do potencial que ela teria caso o autor tivesse lhes concedido mais fôlego e um alinhavado mais firme. Sim, é importante o subtexto, deixar espaços para que o leitor complemente com sua imaginação, percepções, crenças, mas nem todas as decisões aqui feitas pelo autor poderiam ter ficado sem o peso e a alma das palavras que ele escolheria bem para dimensioná-las de acordo com sua importância na história. Outro ponto que, para mim, contribuiu para esse “sufocamento” foi a mudança constante de narradores e a divisão estrutural escolhida para erigir a história. Essas são, claramente, impressões muito pessoais de quem gosta de ler e escrever, então sugiro a todos que leiam e tirem suas próprias percepções. Mesmo porque o livro do Itamar é bom! Só que, em relação à minha experiência de leitura, um fogo que foi salvo numa brasa pequena, mas que não esquenta e não ilumina tanto quanto ele seria capaz.

  • Gerlan Menegusse

    O livro é terrivelmente belo, como tudo que o Itamar escreve. O homem saber trazer poética mesmo em meio ao sofrimento. Me senti não muito distante da Fazenda da Água Negra, mas agora com o título de Tapera do Paraguaçu. A narrativa nos aproxima dos personagens, primeiro na fala de Moisés, depois de Luzia e Maria Cabocla. Simmmm tem Torto Arado aqui! Salvar o Fogo não quer se assemelhar ao seu irmão TA, mas ele continua a história iniciada. Itamar quer falar do social, mostrar o descaso, a violência em suas várias formas, e ao mesmo tempo mostrar toda a força de seus personagens! Luzia que o diga! Que mulher! Manaíba com certeza é o capítulo mais potente do livro. E ao final, no último capítulo, eu achei que novamente um encantado tomaria conta da narrativa (estava na torcida por isso rsrs). Mas Luzia é este encantado que eu tanto esperava, ela é quem domina o fogo, ela é o sagrado, ela é o próprio fogo! Seu nome é coragem, e já não teme a morte.

  • Raphael Donaire

    Itamar nos coloca em contato com o que dá mais profundo na cultura brasileira. Em "Salvar o Fogo", o autor constrói uma narrativa envolvente, através da qual nos tornamos confidentes dos personagens e nos emocionamos com suas trajetórias singulares.

    No centro da trama, encontramos Luzia do Paraguaçu, mais uma das inesquecíveis criações de Itamar – uma mulher que encontra na coragem o caminho para superar as maiores injustiças. As amarras impostas pela religião, a violência nas disputas pela posse da terra, o machismo que assola as dinâmicas da sociedade e as dores do racismo, que penetra como uma lança no coração dos personagens, são retratados aqui com profunda humanidade. Me senti em contato com histórias que me atravessaram e me atravessam ao longo da vida.

    O livro é mais um convite para que tenhamos a chance de conhecermos as belezas e a complexidades que permeiam o Brasil.

  • Bruna Santos

    Texto empolgante com personagens fortes e interessantíssimos e que, ainda por cima, aborda temas relaxantes, como abuso sexual e pedofilia na igreja católica, intolerância religiosa e ancestralidade, é definitivamente meu tipo de livro

  • Paulo Reimann

    Fabulous

    Itamar Vieira Junior exceeded his previous book which was already fantastic. Salvar o Fogo is more than special. Pictures Brazilian reality and fantasy at its best.

  • Mafalda Pestana

    Delicioso!

  • Carlos Eduardo Sarubbi

    Gostei bastante (olha que nem li Torto Arado ainda, apesar de que deveria ter lido pois é uma espécie de continuação), tem um prólogo e uma primeira parte EXCELENTES. Escrita extremamente fluida, li em três dias, e emocionante, chorei algumas vezes. Vai ser sucesso certamente pq trata de todas as pautas atuais, mas TODAS mesmo, só faltou aparecer um personagem não-binarie/trans. Reparo: o autor força uma consciência (de classe, de raça, de gênero, etc etc etc) em seus personagens, na toada de toda a literatura brasileira contemporânea. As vezes eu fico com a impressão de q esses personagens fizeram um curso de extensão na FFLCH, mas isso é só uma implicância pessoal de tio velho rabugento.

  • Natalia Alves

    Rio Paraguaçu e Rio Santo Antônio.
    Luzia, Maria e Belonisia.
    Moradas e Vidas.
    Terra e memórias.
    Salvar o Fogo e Torto Arado.

    É muito potente percorrer a narrativa entrelaçada de Itamar Vieira Júnior. Ver a coragem desse autor em reforçar histórias invisíveis.

  • Raquel Bello Vázquez

    O novo romance de Itamar Vieira Junior é continuação do exitoso Torto arado. Radicada no mesmo universo do interior da Bahia, a narrativa é protagonizada por personagens que, novamente, são trabalhadoras e trabalhadores rurais empobrecidos e explorados pelas estruturas do Estado e da Igreja católica.

    Vieira Junior continua fazendo um trabalho significativo de resgate das vidas de personagens apagados pela história oficial de uma forma acessível e muito bem sucedida entre o público leitor, convertido já em um fenômeno literário e midiático com poucos precedentes no campo literário no Brasil.

    Para quem se encantou com Torno arado, Salvar o fogo não vai decepcionar. Para quem apontou algumas macelas, elas se repetem: personagens que tendem ao esquematismo (os bons são muito bons, os vilões são grandes vilões) e didatismo na apresentação dos conflitos. A narração às vezes sufoca com tanta explicação sobre como deve ser interpretada cada ação, pensamento, metáfora, símbolo. É como se, no mesmo texto, o autor nos desse o romance e o guia de leitura, o que deixa pouca margem para a imaginação da leitora realizar as suas próprias conexões e evocações.

    Pessoalmente, o que menos me convence em ambos os romances é o uso da primeira pessoa para a voz narrativa, que me parece uma oportunidade perdida, pois não é usada para explorar a subjetividade linguística e emocional dos personagens, e não estabelece uma diferenciação com a terceira utilizada nas últimas seções de Salvar o fogo.

    Akwaeke Emezi, por exemplo, mostra no seu romance Água Doce uma fascinante riqueza de possibilidades no jogo das vozes narrativas e dos pontos de vista. Sendo a opção estilística do autor a utilização do registro formal do português e o didatismo político apontado acima, parece que uma voz narrativa omnisciente faria mais sentido.

    Mesmo com essas ressalvas (que são muito pessoais), vale a pena a leitura para entender os novos rumos da literatura brasileira, que parece mudar decididamente o foco para novas histórias mais inclusivas, e que aprofunda o seu diálogo com textos do campo da antropologia: se as conexões com A queda do céu são evidentes em O som do rugido da onça, aqui mostram-se ligações com o trabalho de Viveiros de Castro.

  • Mina M.

    Sem dúvida um dos grandes nomes da literatura brasileira atual.

  • Pedro Pacifico Book.ster

    A expectativa do mercado literário estava grande, quase 40 mil exemplares vendidos na pré-venda, e não tinha como ser diferente. A obra antecessora do autor conseguiu um feito que não se via há décadas: um livro contemporâneo nacional furou a bolha para vender mais de 700 mil exemplares. Gostando ou não do livro, essa conquista deve ser muito celebrada por quem se importa com a leitura em nosso país.

    E também não há como ignorar as recentes críticas acadêmicas negativas sobre a obra. No entanto, na minha opinião como leitor, o novo livro de Itamar já é um sucesso. É verdade que ele segue um estilo muito semelhante de “Torto arado”, mas em momento senti que a proposta do autor foi ser inovador. Há, inclusive, referência a personagem de seu primeiro romance.

    “Salvar o fogo” nos leva a um cenário característico do nosso país. Tapera é uma comunidade na zona rural da Bahia e com moradores de origem afro-indígena. É o resultado de um país miscigenado, contando ainda com a presença do homem branco europeu a partir da figura da igreja católica.

    O início da leitura já me prendeu. O mosteiro construído há alguns séculos se alterna como pano de fundo com a casa da família que será o centro da narrativa. As críticas à igreja e sua hipocrisia têm lugar relevante nessa primeira parte. Ao se deparar com os personagens que emprestarão sua voz para nos guiar na narrativa conseguimos compreender que, apesar de uma realidade de pobreza e faltas, a complexidade de suas vivências não os torna menores que os grandes donos das terras.

    Luzia, a personagem mais fascinante da obra, é atacada pelos demais cidadãos de Tapera por seus supostos dons sobrenaturais. Sua deformidade física ainda a torna vítima de piadas. Mas é na força m de Luzia, e nos segredos que acompanham seu passado, que o autor consegue construir a sua personagem mais emblemática.

    Senti que o ritmo diminuiu um pouco na segunda parte da obra, mas nada que tenha prejudicado a experiência da leitura. Com “Salvar o fogo”, Itamar se mantém como um dos principais nomes da literatura nacional e, o mais importante de tudo, atraindo novos leitores ao prazer da literatura.

    Nota: 9/10